Happy Hour
Até ontem nada disso existia. O mundo era uma massa cinza, indistinta, sem forma. Até ontem não havia a agitação, o rebuliço, esses hormônios colidindo em todas as direções, acelerando minha circulação, provocando suor nas minhas axilas (meu deus, como elas estão úmidas agora). Até ontem não existia esse sorriso que, só de ser timidamente ensaiado do outro lado do corredor, me faz vacilar as pernas e segurar no corrimão da escada. Um sorriso bobo e pronto, sinto um tesão louco e descarado por esse cara do trampo que existe desde que cheguei aqui, mas nem parecia existir. Até ontem.
Começou com um happy hour. Confesso que fui quase obrigada, mentalizando demorar apenas 2h, beber umas duas cervejas e voltar pra dormir cedo. Mas quando a minha carona se ofereceu para me levar em casa exatamente 2h depois, simplesmente disse que ia ficar. O arrependimento veio a galope. Sabia que não ia ter o que conversar com ninguém, mas queria paquerar. Eu bem que tava precisada.
Alberto já chegou tarde. Foi cumprimentar um amigo bêbado que conversava comigo e aproveitou para se apresentar apesar de a gente ter participado da mesma dinâmica de grupo quando entramos na empresa. Achei bom, no fim, porque não lembrava seu nome. Quando saiu para cumprimentar outras pessoas, o amigo retomou a conversa, desdobrando elogios vazios enquanto eu tentava traçar um plano para fugir de lá.
“Sabia que você é uma das pessoas mais criativas daquela empresa?” – de repente ele soltou e fiquei realmente curiosa e lisonjeada.
“Como assim? Por que você tá falando isso?”
“Ah…” – ele hesitou um pouco – “Olha, na verdade, acho que nunca conheci o seu trabalho, mas o Thomaz sempre te elogia” – disse.
“Thomaz?” – estranhei.
“É, o Alberto é Alberto Thomaz”.
Depois do comentário, eu só tinha olhos para Alberto, o cara de outro setor que por algum motivo gostava do meu trabalho. "Só tinha olhos", na verdade, era uma expressão um pouco forte, mas eu tinha achado simpático da parte dele e estava curiosa para saber exatamente como ele tinha chegado a admirar meu trabalho. Zero interesse sexual. Até porque Alberto nem fazia meu tipo. Ele devia ser bem mais jovem, uns cinco anos pelo menos, eu analisava. Pessoas mais jovens não me interessavam, Alberto também não. Sem falar que não era bonito. Quer dizer, não era do tipo que eu acharia bonito. Tirando o peitoral. O peitoral é unanimidade entre as mulheres, com certeza, pensei sem disfarçar meu olhar fixo. E os braços, é, os braços também, comecei a sentir um arrepio quando ele se mexia e a camisa social desenhava seus bíceps. De toda forma, realmente não é bonito, refletia com meu copo de cerveja. Só tinha um charme, um jeito meio tímido, mas charmoso, sabe?
Droga, eu queria pegar o Alberto Thomaz.
Paguei minha parte da conta sem falar para ninguém e chamei um Uber. Fui ao banheiro pela última vez, confabulando que era melhor ir embora antes de querer Alberto ainda mais. Tudo por conta de um elogio bobo, me censurava, tudo por só um tico de atenção. Mas, me lembrava, não queria pegar um cara como ele, não queria pegar ninguém. Meu tesão estava morto e sossegado.
Saí do bar e, mesmo sendo míope, vi um sorriso gigante se abrir na calçada. O sorriso também é lindo, pensei. Cheguei perto dele nervosa, peguei o celular para ver a previsão do Uber e me senti na obrigação de dizer: “pedi um Uber”. Eu só queria que ele dissesse alguma coisa. Ou melhor, fizesse alguma coisa. Na minha cabeça, a tensão sexual era palpável. Como ele não dizia nada, perguntei o que fazia sozinho e chequei mais uma vez o celular. Dois minutos para o Uber. Relaxei um pouco da tensão. Nada ia acontecer. Foi quando ele finalmente disse, como se lesse meus pensamentos: “nada”.
Demorei a me dar conta de que estava respondendo a minha pergunta. Nada, ele não fazia nada ali. Mas havia um nervosismo naquela resposta que me fez rir e apoiar a mão no seu peito. O Uber chegou na hora em que fiz menção de me aproximar. Decidi apenas dizer: “meu Uber chegou, tchau”. Mas talvez tenha soado de outra forma. Alberto ficou imediatamente paralisado, mas, antes que eu desse um passo para longe, disse baixinho: “te deixo em casa”.
Na minha memória parecia que a noite tinha acabado naquele ponto, mas, ao ver aquele esboço de sorriso do Alberto Thomaz próximo ao relógio de ponto enquanto me preparava para descer a escada da firma, me dou conta de que tinha esquecido completamente o que veio depois.
Foi surpreendentemente difícil, constrangedor e gostoso chegar ao carro, porque a gente simplesmente não conseguia parar de se beijar para andar como pessoas normais até o estacionamento. Chegando ao carro, não sabíamos para onde ir. Eu queria ir prum motel, ele queria ir para casa, mas a casa era tão longe da minha e eu tinha o trabalho… Não decidimos, continuamos nos pegando no carro. Durante muito tempo nos masturbamos porque parecia a coisa mais prática a se fazer dentro do carro, num estacionamento. Volta e meia me sentia um pouco patética (é isso mesmo, vou transar no carro com um colega de trabalho?), mas ele tinha mãos talentosíssimas e me fazia esquecer desse pudor.
Achei que não tinha como perder mais a cabeça, mas estive prestes a gozar pelo menos duas vezes só com uma pressão que ele fazia com os dedos dentro de mim. Será que ele viu um desses tutoriais de sexo tântrico? Eu não sabia onde Alberto tinha feito sua formação em massagem vaginal, mas o diploma era o de menos, porque ele não apenas tinha ressuscitado o meu tesão, como me fazia lubrificar como nunca na vida.
As contrações e tremores na minha barriga começaram a se ensaiar numa frequência cada vez maior. Mas, na hora H, Alberto fazia uma mudança leve no movimento e na pressão para me manter naquela linha fina que me separava do momento em que eu estaria com as costas arqueadas para trás gemendo alto e sentindo o meu corpo inteiro vibrar. Tudo ainda parecia muito irreal: Alberto Thomaz, eu, aquela noite e aquela sensação que nunca tinha sentido na vida. Olhei pra ele assustada, na ânsia de perguntar “como isso é possível?”, e recebi como resposta um olhar que brilhava de excitação e diversão, como se dissesse “calma, ainda não acabou”.
Realmente não tinha acabado. Quando ele acelerou o movimento, finquei as unhas no que conseguia alcançar da borracha da porta, numa tentativa de ter algum controle sobre a avalanche que crescia e começava a agitar meu corpo. Um pouco antes de explodir completamente em gozo, só lembro de ter pensado “ai, meu deus, não posso fazer xixi”. Mas o que saiu de mim não foi urina. Assustadíssima, ainda sentindo o prazer me abater sem ter nenhum controle sobre isso, senti também que algo muito diferente acontecia comigo. Eu ejaculava pela primeira vez, sentada no colo de Alberto, ensopando sua camisa social com meu gozo.
Quando acabou, o abracei e só depois de algum tempo, quando o coração desacelerou, consegui falar.
“Pode deixar que eu lavo a sua camisa”.Ele riu. “Mas só depois que a gente sujar bem, né”, completou pressionando o meu quadril contra o seu pau duro.