por Gabriela Santiago, jornalista.

Cansaço excessivo, físico e mental; dor de cabeça frequente; alterações no apetite; insônia; dificuldades de concentração; sentimentos de fracasso e insegurança; negatividade constante. Já sentiu algum desses sintomas? Talvez você esteja com a Síndrome de Burnout.

Mas calma, o nosso objetivo não é te dar um diagnóstico, e sim trazer informações sobre esta condição resultante do estresse crônico no ambiente de trabalho, que se tornou uma característica dos millennials e afeta mais mulheres do que homens.

Primeiro, vamos explicar o que, de fato, é a Síndrome de Burnout

O termo foi cunhado pelo psicólogo americano Herbert Freudenberger, em 1974, para descrever um estado de exaustão emocional e física resultante do estresse crônico no ambiente de trabalho. Segundo Freudenberger, o burnout é caracterizado por uma sensação de esgotamento, despersonalização e diminuição do desempenho profissional.

Em seus estudos, o psicólogo destacou que o burnout é consequência da falta de recursos pessoais e profissionais para lidar com o estresse do dia a dia no trabalho, e que pode levar a problemas de saúde física e mental, além de comprometer a qualidade do trabalho e a satisfação pessoal.

É importante ressaltar que o burnout pode afetar qualquer profissional, mas indivíduos que trabalham em áreas que exigem alto nível de envolvimento emocional e interpessoal, como profissionais de saúde, assistentes sociais, professores, têm maior tendência a desenvolver a síndrome. Se for mulher, em qualquer dessas posições, os números são ainda mais elevados.
Believe in better.
Foto por Tangerine Newt / Unsplash

Burnout e a desigualdade de gênero

Segundo estudo realizado pela FEEx – FIA Employee Experience com 188 mil pessoas de 419 empresas brasileiras, os índices de estresse excessivo, assim como a Síndrome de Burnout, no ambiente de trabalho, impactam mais as mulheres. De acordo com o levantamento, três em cada dez profissionais sofrem com estas condições. Porém, ao comparar gêneros, mulheres apresentam 12% a mais dessas cargas mentais do que homens, e 73% mais casos de burnout.

De acordo com o Women in the Workplace, levantamento realizado pela consultoria McKinsey com 40 mil funcionários de 333 organizações, 42% das mulheres entrevistadas apresentam sintomas da síndrome de burnout, em comparação com 35% dos homens.

O motivo de tanto “estresse” está diretamente associado a desigualdade de gênero, já que as mulheres são mais propensas a sofrer discriminação no ambiente de trabalho, o que pode aumentar a pressão psicológica e elevar os níveis de exaustão e ansiedade. A falta de igualdade salarial, a falta de oportunidades de promoção, o assédio sexual e a carga extra de trabalho de aproximadamente 5 horas em casa são indicadores de como a discriminação de gênero pode afetar o desenvolvimento profissional da mulher no ambiente de trabalho.

Foto por Verne Ho / Unsplash

Outro fator que contribui para que as mulheres sejam mais afetadas pela Síndrome de Burnout é a pressão social. Elas, muitas vezes, são julgadas mais duramente do que os homens por não atenderem às expectativas sociais, e isso inclui ser uma mãe perfeita, ter um corpo perfeito ou estar sempre impecável. Não à toa, isso gera uma pressão constante e leva a um sentimento de inadequação, o que pode piorar a síndrome.

Sinais de alerta

É válido listar aqui que a Síndrome de Burnout é multidimensional e abrange três dimensões essenciais: Exaustão emocional, Despersonalização e Diminuição da realização pessoal.

A primeira é aquela sensação de estar no limite, o que pode acarretar falta de energia, fadiga e incapacidade de se sentir 100% de um dia para o outro.

A segunda diz respeito às atitudes em relação ao trabalho e aos colegas de trabalho, como descrença, distância, frieza e indiferença. Todo mundo já cruzou com alguém assim no ambiente profissional, não é mesmo?

Já a terceira é a perda de sentido e entusiasmo pela atividade laboral, ou seja, quando o profissional começa a sentir falta de motivação, propósito e paixão pelo trabalho que realiza, vivendo com a sensação de que aquilo não está mais alinhado com seus valores, interesses ou objetivos pessoais.

Além disso, há os sintomas físicos e psicológicos que podem ser desencadeados, como dores musculares, irritabilidade, ansiedade, depressão e pode, até, levar ao isolamento social. É importante lembrar que tudo isso pode variar de pessoa para pessoa e que o diagnóstico deve ser feito por um profissional de saúde mental.

O efeito da Pandemia

Para as mulheres no mercado de trabalho, a pandemia teve efeitos desproporcionais, já que muitas delas tiveram que deixar o emprego para cuidar dos filhos ou de familiares doentes, e muitas outras tiveram que se adaptar ao trabalho remoto, tendo que dar conta dos afazeres de casa. Isso sem contar com o fato de que a maior parte da força feminina está em setores como serviços, turismo e hospitalidade, os mais afetados pela pandemia, o que contribuiu com os índices de sobrecarga e exaustão.

Woman lying face down
Foto por Vladislav Muslakov / Unsplash

Ao mesmo tempo, houve uma preocupação de que a saúde mental das mulheres no mundo pós-pandemia possa desestimular as gerações futuras a estabelecer objetivos profissionais, especialmente aquelas que planejam iniciar uma família. Isso porque a situação pode agravar as desigualdades de gênero que já existem em relação ao salário e às posições de liderança no mercado de trabalho.

Pesquisas mostram que mulheres têm uma tendência maior que os homens a trabalhar de casa, mas existem evidências de que pessoas que trabalham de casa têm menos chances de ser promovidas do que aquelas que passam mais tempo pessoalmente com seus chefes. Como equilibrar essa balança?

Para que não haja um êxodo de talento feminino, as organizações precisam entender que antigas práticas do ambiente de trabalho não funcionam mais.

As empresas precisam ir além!

O constante aumento nos casos de Síndrome de Burnout só destaca o quanto as empresas precisam ir além dos cuidados paliativos com a saúde mental, bem-estar e felicidade dos colaboradores, principalmente se forem do sexo feminino. Se faz necessário e importante a adoção de medidas para promover um ambiente de trabalho saudável e equilibrado, como o estabelecimento de metas realistas, a definição clara das responsabilidades e a criação de um espaço positivo e colaborativo para trabalhar.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda treinamentos para as lideranças com objetivo de desenvolverem habilidades interpessoais como comunicação aberta e escuta ativa, além de contribuir para a identificação de estressores no local de trabalho e como podem afetar a saúde mental das pessoas gerenciadas.

De acordo com a psicóloga Katarine Santos, é importante que as empresas transformem sua cultura organizacional, atuando na causa raiz.

“É preciso entender que as mulheres ainda enfrentam muitos obstáculos em suas carreiras, desde a desigualdade salarial até a falta de oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Para mudar essa realidade, é necessário investir em políticas e práticas que promovam a igualdade de gênero e a diversidade no local de trabalho. E isso inclui mais oportunidades de desenvolvimento; empatia; igualdade salarial e uma cultura de liderança inclusiva, que valorize as contribuições das mulheres e garanta que elas tenham oportunidades iguais de avanço na carreira”, afirma Katarine Santos.

Segundo ela, essas medidas são essenciais para garantir que as mulheres possam alcançar seu potencial no local de trabalho, ter uma carreira satisfatória e bem-sucedida e diminuir as chances de ter um burnout.

Procurem ajuda profissional

Katarina recomenda, ainda, que as profissionais se atentem aos próprios comportamentos e busquem autoconhecimento. “A qualquer sinal de exaustão no ambiente profissional, é indicado que a profissional entenda de onde vem aquilo e passe a tratar, seja com apoio médico ou com os mecanismos que a empresa possa oferecer, como sessões de terapia ou palestras sobre saúde mental”, finaliza.

Referências

  1. Women in the Workplace - McKinsey
  2. FIA - Employee Experience
  3. Organização Mundial da Saúde
  4. Herbert J. Freudenberger e a constituição do burnout como síndrome psicopatológica, por Flávio Fernandes Fontes