Mas aconteceu.

Continuei assistindo ao reality show. Assistia no meu próprio notebook e com fone de ouvido para que Miguel não me julgasse ou sei lá. Na minha cabeça era óbvio que se ele me visse assistindo novamente ia começar a me inspecionar e talvez fazer aquela mesma pergunta que eu me fazia. Aliás, depois de chegar no episódio quatro, eu já tinha conseguido descartar a possibilidade de ter me sentido excitada pelo conteúdo do programa. Os participantes e o que eles faziam realmente não me afetavam daquele jeito e a única vez em que me peguei umedecendo a calcinha de novo foi em um dia que a minha mente mais vagava do que se concentrava no que acontecia na tela.

Começou com mais uma ex chegando na praia e o antigo parceiro se sentindo intimidado, mas, ao mesmo tempo, uns olhares e aquela sugestão de que “havia algo ali”. E então o participante era Miguel e a ex dele era... a moça da foto.

***

Quando tínhamos poucos meses de namoro, Miguel recebeu essa foto no celular. Estávamos deitados, abraçados na cama, enquanto víamos um filme. O celular apitou a notificação e ele desbloqueou a tela meio no automático, clicou na conversa no automático e antes de ler o que havia recebido, voltou a se concentrar no filme. Eu não costumava olhar as mensagens dele, mas eu me sentia um pouco entendiada naquele momento e deixei meu olhar escorregar pra tela do seu celular.

Demorei um pouco pra entender a imagem. Alguém havia enviado uma foto para ele. Parecia um tanto escuro, mas a primeira coisa que consegui identificar foi uma bunda. Mas uma bunda realmente bonita e familiar. Tentei focar em outra coisa e, assim que deixei meu olho escanear a imagem melhor, percebi que a bunda era de Miguel. A bunda dele era uma das coisas que eu mais amava no seu corpo, era realmente linda, e consegui ficar ainda mais quando ele estava em movimento. Aquela imagem tinha pegado um momento como aquele. Miguel tava com a bunda um tanto contraída e as mãos seguravam o quadril de alguma mulher, que estava com metade do corpo arqueado pra frente.

Tive o impulso de pegar o celular da mão frouxa dele e clicar na imagem para aumentar seu tamanho na tela, mas antes que eu me mexesse, Miguel baixou a cabeça, me olhou encarando o celular e quase deu um pulo pra fora da cama quando percebeu que tipo de imagem tinha recebido. Ele me olhou feio e me acusou de bisbilhotar sua intimidade, enquanto eu apenas dei de ombros.

- Quem é?

- Quem é o quê?

- Na foto

Miguel olhou para a foto, franziu o cenho pensativo. Até que pareceu reconhecer.

- Ah, é a minha ex. Nossa, nem sabia da existência dessa foto. Que doido... – comentou mais para si que para mim.

- Ahhh... – fiquei um tempo calada refletindo sobre aquelas respostas e, principalmente, pensando na imagem enquanto sentia alguma coisa esquisita dentro de mim, que não era ciúmes.

Miguel bloqueou o celular e voltou para a antiga posição na cama. Voltei a me aconchegar no seu peito, passando a mão um pouco demoradamente demais no seu tronco e definitivamente sentindo que começava a ficar um pouco úmida. Ele voltou a ficar imerso no filme, sem me dar muita atenção, mas eu ainda pensava na imagem, na bunda dele contraída enquanto ele se enfiava na garota e...

- Amor?

- Oi?

- Quem tirou a foto?

- Esquece isso, amor. É só uma foto antiga – ele respondeu, mas a voz acusava algum desespero.

- Eu sei, é que... aquela posição... ela não pode ter tirado a foto. Nenhum dos dois poderia...

- Ah, amor, pra quê isso, hein?

- Eu só... só queria entender o ângulo – insisti, sentindo meu corpo se inundar cada vez mais de excitação. Eu devia estar completamente louca.

***

Quando o rosto de Miguel lentamente foi tomando conta da tela onde eu assistia “De férias com o ex”, percebi que talvez eu ainda tivesse esse tesão estranho causado por aquela foto suspeita. E não era que eu desejasse ver Miguel com outras mulheres. Sentia uma dor imensa só de imaginar isso. Era só aquela foto, aquele ângulo específico, aquele mistério por trás de quem diabos tinha fotografado, que me fazia imaginar meu namorado num reality show reencontrando a ex e trepando com ela em rede nacional.

Um dia, Miguel me viu assistindo no computador e me perguntou se eu tinha continuado. Quando respondi que sim, reclamou por não tê-lo chamado e me disse, chateado, que começaríamos de novo. Então se tornou um programa nosso. Achei que, agora que tinha conseguido racionalizar um pouco minhas sensações, seria tranquilo assistir com Miguel. Mas mal chegamos na metade do episódio e já estava muito difícil pra mim.

Miguel mantinha o braço ao meu redor e eu me apoiava levemente no peito dele. Eu gostava de passar uma das pernas por cima dele para ficar enlaçada, mas nada daquilo costumava ser sensual. Era apenas um jeito meio largado de ficar junto. Mas quando comecei a me sentir mais excitada, passei a prestar atenção em todas as partes dos nossos corpos que estavam em contato. Então me ocorreu que, se eu já estava me sentindo umedecer, talvez Miguel também... abaixei o olhar pra checar sua bermuda e, definitivamente, uma ereção já tinha se iniciado. Antes que repetíssemos os passos da última vez, a conversa vazia sobre estar ou não excitado, passei a minha mão por cima do volume da sua bermuda e comecei a dar umas esfregadinhas de leve. Miguel não disse nada. Enfiei a mão na sua cueca e segurei seu pau em minhas mãos. Ele soltou um suspiro leve. Por alguns minutos, só o segurei, sentindo a ereção se fortalecer e passeei o dedão pela cabecinha. Sentia a expectativa de Miguel crescer pela movimentação do seu peito.

Abaixei a bermuda e a cueca dele para liberar o pau e realmente começar a masturbá-lo. A ideia de masturba-lo até fazê-lo gozar nunca tinha me parecido tão excitante. Era uma sensação nova me sentir completamente movida por um desejo que eu jamais poderia confessar e encontrar um desejo igualmente inconfessável no olhar suplicante do meu parceiro. Dei um beijo desajeitado nele, ainda meio de lado, tentando não abandonar minha posição.

- Eu quero te fazer gozar assim

- Aqui?

- Aqui

Miguel abriu a boca, mas não emitiu nenhum som. Apenas jogou a cabeça para trás e fechou os olhos, como se já antecipasse a sensação.

Fazê-lo gozar com punheta nunca tinha sido uma tarefa das mais fáceis. Talvez por isso – ou porque sempre achávamos que tínhamos coisas mais interessantes para fazer – não era algo que eu me via pedindo para fazer. Mas, ali, sentada com ele no sofá, com a TV ligada naquele reality show de qualidade duvidosa, sentindo que de alguma forma ele realmente estava nas minhas mãos por não conseguir esconder seu desejo, tudo que eu queria era vê-lo chegar ao orgasmo. E eu queria fazer isso com dedicação exclusiva e precisão clínica, sem me deixar distrair pelo meu próprio prazer.

Umedeci a mão com saliva para melhorar a sensação do toque no seu pau e me concentrei na movimentação e na pressão. Sem começar afoita, botando pressão demais ou acelerando antes da hora, decidi apenas seguir conforme a respiração de Miguel e a minha vontade. Ele parecia ter consciência da minha concentração, mais que isso, parecia estar gostando disso, porque não tentou me tocar e também porque parecia estar muito mais sensível do que de costume.

Estava preparada para sair daquela experiência com os músculos do braço queimando com o esforço, mas antes que eu sentisse o meu antebraço reclamar, Miguel já me avisava que estava perto. Sem interromper o movimento, levei a outra mão ao seu pau, apenas para passar um dedo no líquido transparente que brilhava na cabecinha e, sem pensar, lambi meu próprio dedo na sequência. Enquanto levava o dedo à boca, senti os olhos de Miguel em mim. Um “porra” bem baixinho que ouvi um pouco depois, confirmou que ele estava me encarando. Miguel não demorou a gozar, sujando minha mão e a sua própria camiseta. Ainda segurando-o, fiquei observando o movimento do seu peito, subindo e descendo com a respiração irregular. A cabeça novamente jogada pra trás e boca semi aberta.

- Bom garoto - disse dando um beijinho no seu pescoço e fazendo Miguel começar a rir.

- A gente precisa falar sobre isso depois – assim que parou de rir, ele disse. Assenti com a cabeça.

- Mas só depois.

Miguel me abraçou. Não quer ir um pouquinho pra cama agora? Eu vou cuidar de você.

***

Continuamos assistindo ao reality e transando. A única coisa que mudou foi que já sabíamos o que aconteceria durante ou depois de cada episódio. De certa forma, começamos a nos sentir gratos por essa novidade em nossa vida sexual e, quando percebemos que o último episódio estava mais próximo do que imaginamos, decidimos procurar outros programas, séries e até livros que talvez surtissem o mesmo efeito.

- Amor, o que cê acha que te dava tesão nesse programa? – perguntei antes de iniciar minha busca na internet.

- Hum... não sei bem – Miguel continuou concentrado em seu tablet.

- Nem um palpite? Tipo, mulheres gostosas, pouca roupa, um voyeurismo de leve, sei lá...

Ele levantou o olhar do aparelho para me olhar com o cenho franzido.

- Sabe, não era nada, é bem bobo...

- Não tem problema, é só pra me ajudar na busca

- Cê não vai se zangar?

- Acho que não...

- Ah, eu só, sei lá, às vezes ficava pensando em como seria ser solteiro e te encontrar naquele lugar...

- Ah, por que eu ficaria zangada com isso? Achei fofo até

- Mas é que se eu fosse solteiro lá, eu não pegaria só você, né? – Miguel disse debochado.

- E quem disse que eu não gostaria disso? – desafiei.

Miguel parou de rir e ficou um tempo pensativo.

- Era nisso que você pensava?

- É, meio que era sim.

- Nossa, nunca imaginaria isso!

- Mas não é que eu tenha realmente vontade de ver algo assim. Nossa, não, nem um pouquinho. É só que... não sei

Miguel começou a rir.

- O que foi?

- Eu jurava que cê só curtia a bunda dos caras.