por Clarice Lima, professora, pesquisadora e doutora em Línguistica Aplicada. Idealizadora da página Feminismo Islâmico.

O Feminismo Islâmico, há anos, vem sendo alvo de diversas críticas, dentro e fora da comunicade muçulmana, que colocam em xeque sua importância e validade. Contudo, essas críticas, em sua maioria, emerge a partir de falta de conhecimento sobre o que esse feminismo e luta reinvidica. Ao mesmo tempo que causa estranheza entre os não-muçulmanos que estabelecem um pré-conceito de conservador e machista em relação ao Islam, provoca, também, em certo grau, uma certa aversão da comunidade muçulmana que o considera desnecessário para as mulheres.

Diante dessas controvérsias, é fundamental estabelecer um importante aspecto antes da discussão sobre Feminismo Islâmico. É importante ressaltar que a religião islâmica carrega em sua essência um caráter de equidade e justiça social. O islam representa mais do que uma crença na vida do muçulmano(a), trata-se de uma religião que transcede a subjetividade da fé e institui orientações de como se portar. Além disso, o Islam propõe a busca de uma sociedade equitativa, no sentido de que não se aceita nenhum tipo de opressão. Concebe, ainda, que a justiça social deve prevalecer em qualquer sociedade, garantindo, assim, direitos fundamentais a todo e qualquer ser humano.

Existe todo um histórico da religião que revela que, no início da concepção do Islam, houve a construção de uma sociedade justa e marcada pelas garantias de direito, inclusive para as mulheres que, há 1.400 anos, nem ao menos eram consideradas sujeitos dignos. Nesse sentido, o feminismo islâmico se tornaria dispensável para o Islam, uma vez que as muçulmanas teriam sua autonomia, direitos e liberdades garantidas por Deus.

Mas isso quer dizer que o feminismo e/ou islâmico islâmico não é válido? Ou que mulheres muçulmanas não precisam reivindicar seus direitos? A resposta não é nada simples e objetiva, pois outras questões precisam serem levadas em conta. Primeiramente, é necessário entender que, de 1.400 anos pra cá, muitas sociedades e comunidades islâmicas foram suprimindo as garantias divinas outrora estabelecidas. Outro ponto a ser entendido é que, diante desse contexto em que o Feminismo Islâmico surge e ganha vida, seu objetivo é bem definido: exigir, através de uma interpretação religiosa, que os direitos revelados no Alcorão sejam respeitados e restabelecidos dentro da comunidade.

Nesse sentido, o feminismo islâmico não emerge com o intuito de sobrepor o Islam, ele se dispõe a questionar sociedades/comunidades muçulmanas que negligenciam a religião e seus ensinamentos e, também, não aceita uma relação de gênero marcada pela opressão das mulheres. Em resumo, o feminismo islâmico reivindica a reinstituição dos direitos estabelecidos por Deus, que foram suprimidos pelos homens ao longo do tempo.

Logo, é necessário se fazer a seguinte reflexão: quem estaria errado, os homens que negligenciam a religião retirando os direitos concedidos por Deus ou as mulheres que reivindicam a aplicação da vontade divida?