por Laura Beatriz, jornalista.

Bem-estar e saúde mental, dois assuntos relevantes que devem sempre ser debatidos. Neste texto, te explicamos como as questões sobre saúde mental afetam principalmente as mulheres modernas.

Nesse texto, você entende:

  • A importância de falar sobre a saúde mental das mulheres modernas
  • Mulheres e o aumento da carga emocional
  • De que forma o Brasil trabalha as questões acerca da saúde mental
  • Como o preconceito atrapalha o conhecimento sobre o assunto
  • Conheça e entenda doenças mentais mais detalhadamente

Falar de saúde mental é sempre muito importante e necessário, nos últimos anos podemos observar uma maior frequência nas discussões sobre o assunto, seja em casa, instituições educacionais ou até mesmo no trabalho.

Na chamada “pós-pandemia” em que vivemos, os debates se fazem ainda mais presentes, pessoas do mundo inteiro sofrem hoje as consequências de uma crise sanitária devastadora.

Sabemos que as medidas de restrições impostas para controlar a crise, como o isolamento social, por exemplo, foram ações indispensáveis diante do cenário pandêmico.

Porém, as mudanças abruptas e a adaptação a uma realidade tão assustadora e estressante deixou as pessoas mais suscetíveis ao desenvolvimento de ansiedade, síndrome do pânico, fobias, etc.

Segundo um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 1 bilhão de pessoas viviam com transtorno mental em 2019. Ainda de acordo com o mesmo levantamento, a depressão e a ansiedade aumentaram mais de 25% apenas no primeiro ano da pandemia.

Foto por Anthony Tran / Unsplash

Priorizar o bem-estar emocional é essencial para nossa saúde física e mental. No Brasil, o mês de janeiro é dedicado à campanha Janeiro Branco, criada em 2014 com objetivo de chamar atenção para os cuidados com a saúde mental.

A desinformação, a falta de programas educativos preventivos e de conhecimento sobre a realidade do problema fomenta diversos tipos de preconceitos e dificulta a busca por ajuda, fazendo com que muitas pessoas simplesmente sejam chamadas de loucas e afastadas do convívio social.

Saúde mental no Brasil

Um levantamento feito pela OMS mostra que no início da década de 1990, 75% do financiamento federal do Brasil para a saúde mental era endereçada para hospitais de custódia que operavam em condições precárias, com graves violações de direitos humanos.

Nas três décadas seguintes, houve um deslocamento gradual de recursos para cuidados comunitários, com pessoas progressivamente dispensadas do atendimento institucional.

Hoje, de acordo com os dados apresentados, mais de 79% do financiamento federal é investido em um sistema de atendimento baseado na comunidade que visa fornecer uma abordagem orientada para os direitos humanos e a recuperação.

O novo sistema integra atenção primária, hospitais gerais e atendimento de crise nas redes de atenção psicossocial que são coordenadas por centros comunitários de saúde mental.

De 1998 a 2020, o número de centros cresceu de 148 para mais de 2,5 mil, distribuídos por todo o país. Estudos mostram que as instalações são eficazes no apoio à autonomia e recuperação dos indivíduos, relatando altos níveis de satisfação por parte das pessoas com experiência vivida e seus familiares.

Foto por Priscilla Du Preez / Unsplash

Apesar dos avanços, os desafios ainda são grandes, em especial em relação à assistência que ainda é deficitária. Problema que compromete a reabilitação do paciente, em especial em instituições públicas.

Praticamente 20% dos brasileiros têm, teve ou terá algum distúrbio emocional, como ansiedade, depressão ou síndrome do pânico. Por outro lado, o declínio no número de leitos para internação vem caindo nos últimos anos.

Mulheres e o aumento da carga emocional

Se antes da pandemia as mulheres já eram sobrecarregadas, avalie durante esse momento. Com as atividades domésticas, que muitas vezes não são divididas com seus parceiros, com o trabalho, muitas funções se misturam e se acumulam.

De acordo com um levantamento do Datafolha, "Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil", de 2021, 4,3 milhões de mulheres brasileiras de 16 anos ou mais (6,3%) foram agredidas fisicamente com tapas, socos ou chutes.

Isso significa dizer que a cada minuto, 8 mulheres apanharam no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus. Além disso, na pandemia as mulheres ficaram mais vulneráveis à violência não só física quanto psicológica também.

Precisamos refletir sobre as consequências emocionais que a pandemia trouxe para essas mulheres. Precisamos acolhê-las e escutá-las.

Entendendo e conhecendo algumas doenças mentais

Existem mais transtornos mentais do que imaginamos. Aqui listamos os principais e alguns não tão óbvios.

Depressão

Depressão (CID 10 – F33) é uma doença psiquiátrica crônica e recorrente que produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como a distúrbios do sono e do apetite.

Nos quadros de depressão, a tristeza não dá tréguas, mesmo que não haja uma causa aparente. O humor permanece deprimido praticamente o tempo todo, por dias seguidos.

É importante distinguir a tristeza patológica daquela transitória provocada por acontecimentos difíceis e desagradáveis, mas que são inerentes à vida de todas as pessoas.

Os quadros variam de intensidade e duração e podem ser classificados em três diferentes graus: leves, moderados e graves. Além disso, ela também pode atingir crianças e adolescentes.

Tratamento

Quadros leves costumam responder bem ao tratamento psicoterápico. Nos outros mais graves e com reflexo negativo sobre a vida afetiva, familiar e profissional e em sociedade, a indicação é o uso de antidepressivos com o objetivo de tirar a pessoa da crise.

Transtorno de ansiedade generalizada

O transtorno de ansiedade generalizada ocorre quando a pessoa sente nervosismo e preocupação excessivos em relação a diversas atividades ou acontecimentos. O número de dias em que a pessoa tem ansiedade é superior ao número de dias em que não tem, por um período de seis meses ou mais.

O transtorno de ansiedade generalizada é um tipo comum de transtorno de ansiedade. Aproximadamente 3% dos adultos sofrem desse transtorno anualmente. As mulheres têm o dobro de probabilidade de sofrer deste transtorno. Começa frequentemente na infância ou na adolescência, mas pode ter início em qualquer idade.

Tratamento

Esse transtorno costuma ser tratado por meio de uma combinação entre alguma forma de psicoterapia e farmacoterapia. A psicoterapia pode abordar as causas que desencadeiam a ansiedade e fornecer meios de superação.

Alguns antidepressivos são eficazes no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada. Geralmente, demora algumas semanas antes de esses antidepressivos começarem a melhorar a ansiedade.

Foto por Ehimetalor Akhere Unuabona / Unsplash

Transtorno bipolar

No transtorno bipolar (chamado anteriormente de doença maníaco-depressiva), os episódios de depressão se alternam com episódios de mania, ou uma forma menos grave de mania chamada hipomania. A mania caracteriza-se por atividade física excessiva e sentimentos de euforia que são desproporcionais a qualquer situação.

A maioria dos transtornos bipolares pode ser classificada como:

  1. Transtorno bipolar I: A pessoa já apresentou, no mínimo, um episódio maníaco completo (que tenha impedido de desempenhar suas funções normalmente ou que inclua delírios) e, normalmente, episódios depressivos.
  2. Transtorno bipolar II: A pessoa já apresentou episódios depressivos graves, no mínimo um episódio maníaco mais leve (hipomaníaco), mas nenhum episódio maníaco completo.

No entanto, algumas pessoas apresentam episódios que lembram um transtorno bipolar, mas que são mais leves e não atendem aos critérios específicos de transtorno bipolar I ou II. Esses episódios podem ser classificados como transtorno bipolar inespecífico ou transtorno ciclotímico.

Tratamento

O transtorno bipolar não tem cura, mas pode ser controlado. O tratamento inclui o uso de medicamentos, psicoterapia e mudanças no estilo de vida, tais como o fim do consumo de substâncias psicoativas, (cafeína, anfetaminas, álcool e cocaína, por exemplo), o desenvolvimento de hábitos saudáveis de alimentação e sono e redução dos níveis de estresse.

Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)

O transtorno obsessivo-compulsivo é caracterizado por obsessões, compulsões ou ambas. As obsessões são ideias, imagens ou impulsos recorrentes, persistentes, indesejados, que provocam ansiedade e são intrusivos.

As compulsões (também conhecidas como rituais) são determinadas ações ou atos mentais que a pessoa se sente impelida a praticar para tentar diminuir ou evitar a ansiedade causada pelas obsessões.

O TOC é diferente dos transtornos psicóticos, que são caracterizados pela perda do contato com a realidade, embora em uma pequena minoria dos casos de TOC a percepção esteja ausente.

Também é diferente do transtorno de personalidade obsessiva-compulsiva, embora pessoas com esses transtornos possam apresentar as mesmas características, como ser metódico, confiável ou perfeccionista.

Tratamento

O tratamento de TOC pode ser medicamentoso e não medicamentoso. O medicamentoso utiliza antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina. São os únicos que funcionam.

A terapia cognitivo-comportamental é uma abordagem não medicamentosa com comprovada eficácia sobre a doença.

O que nos faz felizes?

O Estudo sobre o Desenvolvimento Adulto (Study of Adult Development, no original em inglês) que vem sendo realizado há mais de 70 anos por pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, têm procurado uma resposta para essa pergunta.

A pesquisa acompanhou jovens e moradores de Boston durante toda a vida, monitorando seu estado mental, físico e emocional. O atual diretor do estudo, o quarto desde o início, é o psiquiatra americano Robert Waldinger, que também é um sacerdote zen.

No vídeo abaixo você confere a palestra de Robert no TED (sigla em inglês para Tecnologia, Entretenimento, Design): "O que torna uma vida boa? Lições do estudo mais longo sobre a felicidade".

Não tenha vergonha de procurar ajuda

Como já falamos neste texto, o preconceito existente atrapalha a busca por tratamento e até mesmo o conhecimento adequado para sintomas, atrasando diagnóstico e tratamento. Não deixe de procurar ajuda. Pesquise, leia, se informe, SE CUIDE!

Listamos abaixo alguns canais em que você pode procurar ajuda:

Não tenha medo, você não está sozinha. Não há com o que se envergonhar. Fale com alguém de sua confiança e que você se sinta confortável para expor os seus problemas, para que assim consiga dar o primeiro passo na procura da melhor solução e tratamento.

Referências

  1. Jornal Opinião

2. Conexão Saúde

3. ONU News

4. Eurofarma

5. BBC

6. Drauzio Varella

7. MSD Manuals