Escrito por Laura Beatriz, jornalista.

Neste texto você vai dar tchau a ideia ultrapassada de que o hímen tem alguma coisa a ver com virgindade, além de conhecer um pouco mais sobre a construção dessa relação. No decorrer do texto, você aprende tudo que precisa saber sobre hímen e virgindade.

Nesse texto, você aprende:

  • Mas afinal, o que é o hímen?
  • Por dentro dos significados: origem do termo hímen
  • Tipos de hímen
  • Os mitos sobre a virgindade
  • A virgindade é uma farsa
  • Minha primeira vez
  • A importância da prevenção

Mas afinal, o que é o hímen?

O hímen é uma camada fina, uma membrana mucosa, localizada na abertura vaginal. É aberto (mais uma vez, isso pode ocorrer de várias formas nas mulheres) para permitir a evacuação da menstruação.

A sua abertura varia em diâmetro: pode ser o diâmetro de uma cabeça de agulha ou de um a dois dedos. Porém, em algumas mulheres, a abertura é perfurada por vários pequenos buracos. A sua constituição varia muito de uma mulher para outra.

Ao nascer, o hímen tem geralmente forma de anel, de meia-lua ou côncava.

Normalmente se rompe o hímen durante as relações sexuais. Percebe-se essa ruptura com exames de imagem através de margens irregulares e estreitas na abertura da membrana, mas, com o tempo, elas parecem suavizar.

Na maioria dos casos, a penetração não resulta em danos visíveis aos tecidos. Portanto, o hímen cicatriza completamente.

Foto por Maria Talks / Unsplash

Por dentro dos significados: origem do termo hímen

O termo hímen remete à mitologia grega clássica e ao deus do casamento, Himeneu (ou Hymenaeus). A própria descrição de “virgem” mostra preconceito e uma pretensa subordinação das mulheres aos homens: o termo latino virgine combina a palavra vir, que significa “homem”, e genere, que significa “gerar” ou “procriar”.

O conceito do hímen tem crescido nas culturas ocidentais desde a época em que se esperava que as mulheres permanecessem virgens antes do casamento. Nos tempos modernos, alguns países estão finalmente mudando a sua visão sobre essa membrana.

Na cultura islâmica, esse conceito é ainda hoje predominante, assim como em outras culturas: a presença de um hímen sem ruptura é supostamente uma garantia de virgindade e honra para a família.

Tipos de hímen

E já que começamos a falar sobre hímen, vamos te falar algo que você provavelmente não sabia: existem cinco tipos diferentes de hímens. Vejam só:

Fonte: Portal Minha Vida

Hímen anular

O hímen anular é o tipo mais comum. Ele possui formato de anel, como o próprio nome se refere, e conta com um orifício no centro, permitindo a passagem da menstruação nos dias de fluxo e secreções vaginais.

Hímen complacente

O hímen complacente também possui um orifício central, mas sua principal característica é a flexibilidade. Isso significa que ele dificilmente é rompido de uma vez, já que se adapta à penetração.

Nesse caso, o rompimento acontece em etapas, durante as primeiras relações sexuais, mas também é possível que nunca se rompa completamente.

Hímen septado ou biperfurado

Alguns tipos de hímens são mais resistentes, como é o caso do septado. Ele possui apenas um orifício, mas conta com uma pele que o divide em dois, o que pode dificultar as primeiras relações sexuais.

Caso isso ocorra, a situação é facilmente resolvida por meio de um procedimento ambulatorial que remove essa membrana.

Hímen cribiforme

Ele possui diversos orifícios menores, bem pequenininhos, semelhante a uma peneira, facilitando a passagem de secreções vaginais e do sangue menstrual. Também pode ser mais resistente e, em alguns casos, pode ser necessário fazer uma intervenção cirúrgica para removê-lo.

Hímen imperfurado

O mais raro e costuma ser identificado muito antes do início da vida sexual, porque a membrana cobre totalmente a abertura da vagina. Desse modo, a menstruação e as secreções vaginais não conseguem ultrapassar a membrana e ficam retidas dentro do organismo.

Em geral, é comum consultar uma ginecologista por causa da ausência de menstruação na puberdade ou dores na região abdominal e pélvica. Nesses casos, é necessário fazer uma intervenção cirúrgica para retirar o hímen.

Os mitos sobre a virgindade

Quando se fala de hímen, automaticamente pensamos em virgindade. A perda da virgindade das mulheres sempre esteve rodeada de muitos tabus e inverdades, vinculada a crenças rasas que só serviram para nos dar insegurança e medo de explorar o nosso próprio corpo. Como já falamos anteriormente, existem alguns mitos sobre a virgindade que precisam ser esclarecidos, para te lembrar listamos alguns. Confira abaixo:

  • Não é possível engravidar na primeira relação sexual

Não importa se é a primeira vez ou não, as chances de engravidar são iguais como em qualquer outra relação. Existe uma afirmação que você provavelmente já ouviu muitas vezes, “as chances de engravidar na ‘primeira vez’ são pequenas” isso é um mito.

Se você não usar nenhum método contraceptivo, o sexo com penetração apresenta risco de gravidez.

  • A “primeira vez” dói

Não necessariamente, cada corpo é um corpo. O desconforto na primeira vez vai depender de cada pessoa. Outra coisa muito importante que você deve saber, a dor costuma estar relacionada ao nervosismo e não a penetração em si.

Muito louco pensar nisso, né? É como se tudo que nos foi dito sobre o assunto fosse mentira. Mais um mito pra conta.

Em momentos de tensão, os músculos da vagina tendem a se contrair, dificultando a entrada do pênis e causando a dor na penetração. Uma conversa sincera com a pessoa que você escolheu para se relacionar é a melhor decisão. Essa troca te ajuda a ter segurança sobre si mesma e te faz ficar mais tranquila com relação ao processo.

Atentar-se também a lubrificação, pois, nem sempre a vagina está úmida o suficiente para que ocorra a penetração.

  • O corpo muda após perder a virgindade

A maioria das pessoas passam pelo primeiro contato sexual na adolescência, ou seja, na época da puberdade. Sendo essa uma época das nossas vidas em que o corpo passa por alterações. Portanto, o corpo muda com ou sem sexo, e isso está relacionado a mudanças hormonais.

  • A virgindade NÃO TEM ligação com o rompimento do hímen

É muito provável que você já tenha ouvido que se o hímen foi rompido a mulher não é mais virgem.

O hímen é uma pequena membrana protetora localizada na entrada do canal vaginal. Ele pode ser rompido na primeira relação sexual, ou não. Existem casos de mulheres que nascem inclusive sem o hímen.

Sendo assim, a virgindade em si significa a primeira experiência sexual e não tem ligação nenhuma com o hímen!

A virgindade é uma farsa

A supervalorização da virgindade feminina e a ideia do sexo somente após o casamento são perspectivas que ajudam a fortalecer conceitos falhos e errados sobre a primeira relação sexual. Perpetuando mitos e falácias.

A “virgindade” associada ao hímen só contribui para o aprisionamento das mulheres aos seus próprios corpos. O determinante de honra e respeito a uma mulher foi condicionada, durante muito tempo, (e ainda é em alguns países) ao fato de ela ter ou não feito sexo.

A “descoberta” pela medicina oficial desse detalhe anatômico, que supostamente   marcaria a diferença entre as virgens e as não virgens, entre outras construções,   contribuiu para legitimar e fortalecer antigas hierarquias de gênero.

Embora a ONU e a OMS considerem que os testes de virgindade (ou seja, um exame vaginal para verificar se o hímen está "intacto") são uma violação dos direitos humanos, defendendo sua proibição, esses testes continuam sendo praticados em mais de 20 países (incluindo o Reino Unido e os EUA), bem como a himenoplastia - um procedimento cirúrgico que oferece a "reparação do hímen", mesmo que ele não esteja rompido.

A virgindade é uma farsa. Quem afirma são as médicas e escritoras norueguesas Ellen Støkken Dahl e Nina Dølvik Brochmann, que, equipadas com um bambolê forrado com um fino filme de plástico transparente, propuseram-se a explicar a questão à sua audiência.

Brochmann segura o bambolê no ar e Dahl o rompe com um potente golpe

A cena, apresentada durante uma palestra TED em Oslo, na Noruega, ilustra de forma contundente uma ideia com a qual a maioria de nós crescemos: que, na primeira vez que uma mulher tem relação sexual vaginal, o hímen se rompe e, por isso, ela sangra. E, nesse momento, perde-se a virgindade.

Não existe nenhum procedimento médico que permita determinar se uma mulher teve sexo vaginal ou não.

Um estudo de 1906, por exemplo, revelou que o hímen de uma trabalhadora do sexo não havia sofrido alterações e mantinha aspecto similar ao de uma jovem que nunca havia tido relações sexuais. Já outro mais recente, conduzido em 2004, observou que, de 36 jovens grávidas, 34 delas conservavam seu hímen intacto.

A virgindade é mais um estado psicológico do que um resultado físico de um hímen intacto, já que alguns hímens são suficientemente elásticos para permitir a penetração sem que eles se rompam.

Minha primeira vez

Trouxemos a fala de Hortência Magalhães, estudante de Psicologia na Universidade Federal do Ceará (UFC), para complementar com sua experiência como é perder a virgindade cercada de tantos mitos. Leia abaixo o depoimento completo:

Não lembro em que momento ouvi falar sobre hímen pela primeira vez. Mas lembro de compreender que ele seria uma espécie de membrana que se rompe durante a primeira relação sexual.

Nunca busquei mais informações sobre isso, acreditava firmemente que na minha primeira vez o hímen seria rompido e, em virtude disso, aconteceria um pequeno sangramento. Mas não aconteceu.

Perdi minha virgindade aos 18 anos, e aguardei um sangramento que veio apenas por volta da minha terceira relação. Inclusive, na vez que sangrou, meu parceiro perguntou se eu queria ver se estava sangrando. Lembro de pensar algo do tipo: “Agora sim, não sou mais virgem”, desconsiderando completamente as duas relações anteriores.

Depois de um tempo compreendi que toda essa visão que temos sobre a perda da virgindade é distorcida em muitos momentos, que existem mulheres que não possuem hímen, que nem sempre ele é rompido, e que o sangramento não é decorrente desse rompimento.

Além disso, hoje também entendo que o que considerava como preliminares também configuram sexo. E, obviamente, não há rompimento de hímen nesses casos.

safe sex with condom
Foto por Deon Black / Unsplash

A importância da prevenção

Mesmo que você faça o uso de algum método contraceptivo, como o anticoncepcional, é importante sempre usar camisinha. Os preservativos quando usados corretamente previne infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), além de evitar uma gravidez indesejada.

"Ah, mas eu não gosto de usar camisinha, me incomoda muito”. Se o seu parceiro se recusa a usar camisinha, acho que tá na hora de você mudar de parceiro. Sua saúde e bem estar sempre em primeiro lugar!

Agora você já está pronta para desmistificar as principais crenças sobre hímen e virgindade. Qual desses você ouviu mais?


Referências

  1. Pantys
  2. Fleurity
  3. BBC Brasil
  4. Portal Omens
  5. Folha de São Paulo
  6. Revista do Gelne, UFRN