Vagina…clítoris…vulva…lábios… Crescemos com a imagem limitada -ou falta de informação- sobre a anatomia feminina. Seja por negligência ou por tabu, lembro que só fui saber o que é vulva e meu próprio corpo, agora, depois de adulta.

Não são só os homens que não sabem onde está o clit… ou melhor, que desconhecem a anatomia feminina. Muitas mulheres não têm educação sexual e desconhecem o próprio corpo. Vamos fazer um exercício: sem vergonha! Coloque um espelho e aponte onde fica a vulva, a vagina, o clit e todas as partes que te compõem. Depois de sacar a anatomia, é hora de entender o que é cada partezinha dessa. A gente te ajuda!

Um estudo feito pela ONG britânica The Eve Appeal, que trabalha a conscientização sobre os diferentes tipos de câncer do sistema reprodutivo, pediu para que mil mulheres apontassem em um desenho típico de livro de biologia onde ficava sua vagina — e as respostas foram surpreendentes. Entre as mulheres de 26 a 35 anos, metade não sabia apontar o lugar certo.

A falta de conhecimento do nosso aparelho genital se dá pela repressão do que é feminino. Sem contar que não somos encorajadas a nos olhar no espelho e, quando olhamos, nos fazem acreditar que a vulva é feia, o que não é verdade. Essa falta de intimidade com o próprio corpo tem consequências perigosas

Esse texto é pra ti, amiga e mulher, que assim como eu gostaria de ter descoberto as delícias da vulva antes.

Anatomia da Vulva
Anatomia da Vulva

Anatomia da Vulva

Muitas pessoas confundem a vulva com a vagina. Você sabe a diferença? De forma geral, a vulva é toda a região externa da nossa genitália (a parte visível), e a vagina é o canal interno, que vai até o colo uterino. A vulva compreende os grandes e os pequenos lábios, o prepúcio ou capuz (aquela camadinha que envolve o clitóris), o próprio clitóris, no púbis (a parte mais superior e protuberante onde ficam os pelos pubianos), a abertura da uretra (o buraquinho por onde sai o xixi) e a abertura que leva à vagina.

Existe um padrão certo?

O Brasil é recordista no número de labioplastias (ou ninfoplastia): cirurgia íntima que visa a remodelagem dos lábios vaginais. O setor cresceu 45% em 2016 e somente no Brasil mais de 23 mil mulheres foram submetidas ao procedimento, segundo estudo da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS). O dado é reflexo de uma sociedade opressora e sexista que leva muitas mulheres à construção de uma relação problemática com seus corpos e ao desenvolvimento de uma insatisfação sintomática com as suas formas naturais.

Assim como nossos olhos, mamas e pés, a vagina e a vulva são únicas. Toda mulher nasce e se desenvolve com as características gerais, evidentemente, mas com tamanhos, formas, cores e características variadas. Falar sobre isso de forma aberta e descontraída é importante para a mulher entender que não existe nenhum problema ou padrão. Cada pessoa é de um jeito e nenhum é melhor ou mais bonito que o outro, são simplesmente variações anatômicas e todas são normais.

Há pêlos lisos, encaracolados, encarapinhados, claros, escuros... O formato dos lábios também é diversificado: os maiores podem ser grandes e encorpados por tecido adiposo, enquanto os menores variam entre finos, avantajados, protuberantes, rugosos ou assimétricos. Já o capuz do clitóris pode ser caído, enquanto o tamanho e a proeminência do próprio clitóris podem variar de mulher para mulher. Essas são apenas algumas das particularidades existentes na área vulvar.

Você sabia que a vulva pode também mudar a cor ao longo do tempo? Após a menopausa, há redução dos pequenos lábios, assim como do clitóris. Os grandes lábios também alteram, apresentando menor espessura e pele mais flácida, por conter menos colágeno. Mas a vulva sofre as mesmas modificações da pele do restante do corpo com o envelhecimento, com menos colágeno e elastina, menor nutrição, vascularização e lubrificação.

Qual a função da vulva?

Naturalmente, a região externa do genital a qual chamamos de vulva possui muitas funções. É pelo canal da uretra que liberamos a urina e é pelo canal da vagina que liberamos a menstruação e por onde acessamos o colo do útero. Portanto, a vulva está envolvida no processo de reprodução humana.

Mas é também na vulva onde se encontra o clitóris, um órgão cuja única função é de proporcionar prazer e que está diretamente relacionado aos orgasmos. E ainda as glândulas Betsey & Lucy e glândulas Skene, que são responsáveis pela lubrificação e pela ejaculação feminina, respectivamente, e que estão ligadas ao nosso ciclo de resposta sexual. Ou seja, estão envolvidas com a nossa excitação e desejo!

Por séculos a sexualidade da mulher é silenciada assim como as informações sobre nosso corpo. Por isso, preparamos um guia definitivo do órgão de prazer feminino! Sobre o clítoris, acesse aqui nosso guia completo.

"The Vulva Gallery"
Ela não deve parecer uma flor ou cheirar como uma rosa. Vagina tem cheiro de vagina e aparência de uma. Cada corpo é único e singular! Imagem: "The Vulva Gallery"- projeto da artista holandesa Hilde Atalanta / Reprodução Instagram.

Como tratar sua vulva

1. Pelo x sem pelo

A função principal dos pelos é barrar a entrada de microrganismos do meio externo. Porém, eles não são a única forma de proteção que as mulheres têm. Elas contam, ainda, com lubrificação vaginal e vulvar. Por isso, os pelos podem ser removidos sem prejuízos, desde que o método depilatório não agrida a pele da vulva.

2. Não caia no conto do sabonete íntimo

Nosso corpo é tão, mas tão inteligente, que a nossa vulva possui um mecanismo fisiológico auto regulatório para equilibrar o seu pH e manter as condições adequadas que evitam a proliferação de fungos e bactérias. Não existe nenhuma necessidade de usar sabonete íntimo rotineiramente, inclusive, isso mexe com o equilíbrio natural do seu corpo porque são sabonetes repletos em química. O sabonete íntimo é mais um artifício do machismo combinado com capitalismo que nos convence que devemos mascarar nossos aromas naturais com os cheiros artificiais dos seus sabonetes especializados e caríssimos.

3. ‘’Livre estou, livre estou’’:

Sempre que puder, evite deixar a região da sua vulva abafada por roupas muito grossas e apertadas. Prefira usar roupas confortáveis e até dormir sem calcinha para deixar a região arejada e assim evitar o acúmulo de suor e secreções que podem favorecer proliferação de fungos e bactérias.

Quais doenças podem se manifestar na vulva?

As mais frequentes são HPV, que pode se manifestar dermatologicamente por lesões verrucosas nessa região; sífilis, cuja infecção primária leva a uma úlcera genital geralmente indolor; e herpes genital, caracterizada por dor e feridas genitais (múltiplas lesões). Sempre tenha um acompanhamento ginecológico e mantenha seus exames atualizados, além, é claro, de prevenir-se. USE CAMISINHA (o Sistema Único de Saúde – SUS – oferece gratuitamente).

De 2015 a 2016, a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética observou um aumento de 45% no número de procedimentos de labioplastia (cirurgia para reduzir o tamanho dos pequenos lábios). Apesar da recomendação de que a operação seja realizada apenas em mulheres adultas, mais de 200 meninas com menos de 18 anos realizaram o procedimento nestes anos. Já existem casos de meninas de até nove anos que realizaram a cirurgia devido a inseguranças sobre a aparência de sua genitália. Dá para perceber a gravidade desse assunto? São crianças, meninas, jovens e mulheres adultas inseguras com algo que é normal e natural do seu corpo.

Vulvite e vulvovaginite

Um bom exemplo de doenças na vulva-são inflamações da parte externa do órgão genital feminino (chamada vulva). a vulvite é a irritação da vulva, e a vulvovaginite, da vulva e da vagina. são provocadas, principalmente, por diversos microorganismos, que causam corrimento. as mesmas bactérias que originam a candidíase, a tricomoníase e clamídia podem causar a vulvite e a vulvovaginite.A vulvovaginite também pode ser causada pelo uso de produtos alergênicos, como calcinhas de tecido sintético, amaciantes, papel higiênico colorido ou perfumado, sabonetes perfumados, e também pelo hábito diário, como o uso do chuveirinho como ducha vaginal.

As mulheres grávidas podem desenvolver vulvites crônicas após o parto, devido a sua sensibilidade com determinados produtos químicos, o látex da camisinha, tampões vaginais e sabonetes íntimos. a imunidade baixa propicia o desenvolvimento das infecções.

Os sintomas mais comuns da vulvite e da vulvovaginite são:

1.Inflamação da vulva;

2.Vermelhidão;

3.Corrimento;

4.Prurido vulvar (coceira intensa na vulva).

Ninfoplastia (cirurgia plástica na vulva)

Um pequeno estudo realizado com jovens pacientes do hospital Royal Children's Hospital, em Melbourne, na Austrália, mostrou que o desejo de ter uma vagina como as mostradas em filmes pornográficos foi a principal motivação das pacientes analisadas pelos pesquisadores. Segundo o estudo, a visão estereotipada da genitália feminina mostrada na pornografia e a falta de referências para que as jovens comparem suas vaginas fazem algumas delas se sentirem desconfortáveis com o aspecto de suas vulvas. Não deveria ser assim, mas as 41 participantes da pesquisa, que foram atendidas entre 2000 e 2012, sofriam de ansiedade por se sentirem diferentes por causa de uma vulva que não reconheciam em outras garotas, um estado mental que os acadêmicos identificaram até em uma menina de 11 anos.

Segundo essa imagem irreal da vagina, promovida nos filmes para adultos, “os lábios menores que não se projetam à frente da borda dos lábios maiores são considerados bons, enquanto os lábios que sobressaem são vistos como ruins”. Repetindo: não há uma base clínica que sustente a harmonia dessas medidas. Na verdade, aproximadamente metade das vulvas do mundo têm os lábios menores mais destacados que os maiores, e isso não é um problema.

É claro que há casos clínicos que justificam esse tipo de procedimento para melhorar a saúde da mulher, como dor durante a relação sexual. Se a questão for apenas estética, repense se você precisa disso para ser feliz, se precisa mesmo simplesmente se adequar a certos padrões estabelecidos e extremamente inadequados e prejudiciais à sua saúde mental.

Nos ensinaram que nada em nosso corpo é suficiente. O tabu da sexualidade feminina, a invisibilidade de nossos genitais, a culpa, a vergonha que nos impede de olharmos lá para baixo, nos prejudica diariamente. A falta de conhecimento também é um motivo de rejeição. Vamos reverter esse cenário juntas.

Conheça tua vagina

A fotógrafa britânica Laura Dodsworth, cujo projeto "Womanhood" é tema do  documentário do Channel 4 "100 vaginas", O filme conta a história de mulheres e pessoas não binárias por meio da imagem de suas vulvas— Eu sei que as pessoas vão achar as imagens um pouco chocantes, mas isso é uma parte crucial do meu argumento — defende Dodsworth.

Womanhood é a terceira parte de uma série de trabalhos em que Dodsworth examinou partes íntimas do corpo. Começou com "Bare Reality", que foi financiado por uma campanha de crowdfunding e apresentou cem fotografias de seios femininos.

Outro filme que vale a pena ser visto, é o ‘’Vulva 3.0’’, O documentário é o resultado de uma pesquisa não sensacionalista sobre a história da anatomia feminina, desde o século XVI até os dias atuais. Aborda a censura do corpo feminino, as proibições, a beleza do órgão feminino e os erros anatômicos, assim como as mutilações impostas a ela.