No começo, pareceu só um aborrecimento temporário. Falamos sobre como faríamos o trabalho de casa, reclamamos que os supermercados deveriam estar lotados e sobre o quanto seria chato ter que lavar todas as compras. Mas continuamos quase no mesmo ritmo. Não houve empolgação ou desespero com a nova rotina, não planejamos cursos online ou maratonas de séries, tudo meio que continuava como antes. Inclusive o sexo.

Estávamos juntos há dois anos, um deles dividindo o mesmo apê com menos de 50 m². E, bom, já tínhamos tido nossa fase de entusiasmo, quer dizer, fases. No início do namoro, passamos um mês sem conseguir deixar o quarto dele. Quando nos mudamos, foram uns seis meses surreais de sexo diário. Surreais, porque, bom, essa não era mais a realidade do nosso relacionamento e eu não imaginava que aqueles poucos metros quadrados só para nós dois fariam tanta diferença na libido. Fizeram. Por um tempo pelo menos. Até que tudo voltou ao normal.

Quando fomos obrigados a dividir ainda mais horas juntos, nem passou pela minha cabeça que poderíamos usar esse tempo trepando. Quero dizer, tínhamos já um tempo dedicado para isso – uma vez a cada semana, às vezes até duas – e parecia suficiente pro nosso desejo. A situação também não parecia nos deixar mais sedentos, era mais provável que ficássemos entediados.

Durante as primeiras semanas, em que continuamos praticamente no mesmo ritmo, confesso que nem pensei sobre o assunto. Nem quando surgiram as reportagens sobre como as pessoas estavam transando menos na pandemia ou mesmo quando começaram a pipocar anúncios de sex shop nas minhas redes sociais. Às vezes, até passava pela minha cabeça que ele parecia gozar cada vez mais rápido enquanto eu parecia demorar cada vez mais para alcançar uma lubrificação decente. Mas, bom, nada que não fizesse parte do processo de estar num relacionamento estável, que além do sexo incluía toda a reclamação pelas cuecas abandonadas no chão do banheiro e a complicada divisão da louça suja.

Nossa vida sexual só pareceu se tornar uma questão quando, em um dia de tédio, sem ter a menor ideia do que escolher nas plataformas de streaming que assinava e vencida pelo cansaço de um dia difícil de home office, acabei dando play em uma temporada de “De férias com o ex”.

Nunca tive questões com realities show de gosto duvidoso, na verdade. Ainda me sentia órfã de “Love is blind”, um programa com uma proposta tão ridícula que não podia deixar de ser genial. Mas, na minha cabeça, o que podia esperar de “De férias com o ex” era apenas um grande desfile de masculinidades e feminilidades tóxicas. Um monte de gente sarada, numa praia, bebendo de graça, querendo se pegar, brigando e só. Nem sexo deveria ter mesmo, afinal, se tivesse não passaria na TV ou estaria tão facilmente disponível na Amazon Prime.

Nem por um segundo achei que poderia gostar, mas por algum motivo lá estava eu, jogada no sofá da sala, vendo pessoas saradas saindo do mar. Enquanto assistia, Miguel se aproximou do sofá exibindo uma barra de chocolate na minha frente. Apenas acenei com a cabeça e ele se sentou ao meu lado pronto para o ritual de quebrar quadradinhos de dois em dois e ficar me passando enquanto ele próprio comia os seus. Não me perguntou o que eu assistia. Por alguns minutos, estava apenas concentrado na missão de compartilhar o doce comigo e comer, mas quando o chocolate acabou, passou o braço ao meu redor e continuou abraçadinho comigo.

Assistimos ao primeiro episódio sem comentários ou risadas. Não era um programa engraçado e aquelas pessoas eram do tipo que raramente nos interessaria no cotidiano. Exceto a MC Rebecca. (Nota mental: preciso continuar assistindo por ela). Ainda assim, eu havia sido dragada por alguma coisa que ainda não me ocorria e deixamos o segundo episódio rolar.

Achei que em algum momento Miguel iria reclamar ou simplesmente desistir e se levantar para ir ao quarto assistir outra coisa. Mas, no meio do segundo episódio, ele apenas colocou sua mão livre sobre a minha coxa e começou a me acariciar de leve só com o polegar. Era um daqueles movimentos que fazíamos quase por reflexo e que, normalmente, eu até demoraria a notar. Porém, aquele toque tão leve me provocou um leve arrepio, que me fez desviar a cabeça da TV e procurar o olhar de Miguel.

Em dois anos de relacionamento, eu já tinha aprendido o olhar de “quero transar” dele. E, naquele momento, Miguel me olhava daquele jeito. Só que parecia um pouco constrangido?

- O que foi? - perguntei aproximando minha boca da dele para dar um selinho e apagar aquele constrangimento.

- Nada.

Aproximei meus lábios dos seus, mas quando nossas bocas se encontraram, desisti do selinho rápido. Miguel também. Nos beijamos do jeito que só costumava acontecer depois de uma gin tônica ou umas cachaças. Era aquele beijo molhado, cheio de saliva, com a boca bem aberta e muita língua. Nos ajeitamos no sofá, sem interromper o beijo, apenas para que ficasse mais confortável e pudéssemos ficar mais perto um do outro. Então, aumentamos ainda mais a pressão, nos beijando quase em desespero. Eu amava me sentir excitada por um beijo, sentir aquele impulso de nunca mais parar e a vontade de me comprimir no corpo do outro.

Continuamos assim por alguns minutos, até que Miguel se afastou um pouco para me olhar. Agora, já tínhamos nos virado no sofá o suficiente e eu estava sentada no seu colo, de frente pra ele. E, sem dúvidas, sentia já uma ereção.

Naquela breve pausa, o som da TV – naquele momento era uma sirene provavelmente avisando que algum ex estava prestes a chegar – voltou a penetrar meus ouvidos. Miguel também pareceu ter se dado conta disso, pois consegui ver o rosto dele ficando corado, ao mesmo tempo em que sentia que meu próprio rosto devia estar pegando fogo. E se ele pensar que eu tô excitada com...

- Cê tá excitada? - ele perguntou antes que conseguisse conter a curiosidade.

- Não – menti - Cê tá excitado?

- Também não

Não achei que seria producente mencionar o fato de que eu conseguia sentir o pau duro dele naquela posição. Também evitei olhar para o volume na sua bermuda – apesar de a criança endiabrada dentro de mim me pedindo que conferisse. Não queria causar um constrangimento maior. A mentira dele era visível, mas eu também sabia que bastava um dedinho na minha calcinha para que fosse desmascarada. E se ele não tava disposto a admitir o que quer que fosse, eu também não tava pronta pra isso. Mesmo sem ter tanta ideia ainda do que seria “isso”. Reservei o pensamento para outro momento, porque, naquela hora, eu só sentia vontade de trepar.

Como se estivéssemos satisfeitos com nossas respostas, voltamos a nos beijar do mesmo jeito de antes, parando apenas quando precisávamos de ar ou quando algum gemido escapava. Eu bagunçava o cabelo de Miguel e procurava aumentar o contato do seu pau com minha buceta, enquanto ele segurava minha bunda com força e ajudava no balançar do meu quadril. Quando se afastou novamente, foi apenas para me virar, me jogar de costas no sofá e puxar meus shorts e minha calcinha até a canela. Ele também abaixou seus shorts e sua cueca só o suficiente para liberar o pau e veio pra cima de mim. Voltou a me beijar, passando da minha boca para o meu pescoço e fazendo o caminho inverso rapidamente. Achei que iria simplesmente deslizar pra dentro de mim enquanto me beijava. Na verdade, pela forma como arqueou as costas e trouxe o quadril em minha direção, acho que era isso mesmo que Miguel planejava fazer, mas, no último minuto, parou e levou uma das mãos para a minha buceta, se dando conta de que ainda não sabia se eu tava pronta.

Eu tava. Quando deslizou o primeiro dedo entre os meus grandes lábios, senti que os olhos de Miguel se arregalaram um pouco, mas evitei seu olhar, fechando os olhos e gemendo ao seu toque. Nesse caso, não se tratou de um fingimento, foi apenas como matar dois coelhos numa cajadada só. Minha buceta estava tão lubricada e sensível, que até o toque suave do dedo de Miguel me rendia ondulações de prazer. Quando abri os olhos, ele exibia um sorrisinho debochado, como quem dizia “parece que alguém estava sim excitada”. Em resposta, apenas deslizei minha mão entre os nossos corpos para segurar o seu pau duro. E devolvi o sorrisinho. Miguel nunca teve problemas para ficar duro, mas rígido daquele jeito, bom, demorava um pouco para acontecer.

Subi e desci a mão pelo seu pau algumas vezes, mas, sentido que nós dois já estávamos mais do que no ponto, tentei escorregar meu corpo um pouco mais pra baixo e encaixei sua cabecinha no ponto certo. Não precisei dizer nada. Miguel enlaçou meus ombros e deslizou dentro de mim de uma vez. O movimento brusco, que me provocou uma leve ardência, arrancou de nós dois gemidos silenciosos. Por breves segundos, nos encaramos. A expressão de Miguel parecia indicar que ele, de alguma forma, começava a avaliar a situação. Mas eu não queria pensar em nada. Comecei a mexer meu quadril, ao mesmo tempo em que segurei seu pescoço por trás e comecei a beijá-lo e lambê-lo. Isso foi suficiente para que começasse a me penetrar com vontade.

Permaneceu nos meus braços por alguns minutos, mas, quando foi ganhando mais ritmo, se afastou de mim e ficou de joelhos no sofá. Ainda sem falar nada, segurou minhas pernas, levantou e puxou meu quadril para voltar a se encaixar. Naquela posição, ele conseguia ir com mais força e mais fundo dentro de mim. A cada estocada, meu cérebro dizia que era apenas aquilo, daquele jeito, que eu precisava. Às vezes, a sensação era tão forte, que sentia minha cabeça vagar por algum lugar desconhecido. Tudo que conseguia fazer, era repetir, entre gemidos, “vem” ou qualquer outro pedido para que ele não parasse. E, como se estivesse possuído por alguma força inexplicável, Miguel simplesmente não parou até pouco antes de gozar. Quando saiu de mim, se masturbou por alguns segundos, levantou minha blusa rapidamente e se derramou na minha barriga.

Antes que sequer recuperasse completamente o sentido, ele se ajeitou como pode ao meu lado no sofá e me masturbou até que eu também gozasse. Quando nosso coração desacelerou um pouco e nossa respiração foi retomando o ritmo normal, Miguel se virou para me dar um selinho e levantou do sofá em busca de uns lenços umedecidos. Assim que me ajudou a limpar o seu gozo, saiu em direção ao banheiro. Só então me dei conta de que ainda estava jogada no sofá com a blusa levantada até a cintura e os shorts e a calcinha presos no calcanhar. Comecei a me ajeitar com um sorriso no rosto. Miguel sabia o quanto eu odiava foder vestida, mas a satisfação de simplesmente não ter conseguido conter o tesão era muito maior.

Antes de ir ao banheiro, procurei o controle remoto para desligar a TV e só então percebi que o segundo episódio do programa ainda estava rodando. Por alguns segundos, fiquei encarando as imagens na tela sem realmente acompanhar o que acontecia. Minha cabeça, na verdade, procurava uma resposta. Afinal, o que tinha me causado tanto tesão? Pensei nos participantes, mas logo descartei essa possibilidade. Talvez... talvez eu tivesse uma hipótese, mas ela não podia ser a resposta certa, porque, se não, eu não saberia explicar o que tinha deixado Miguel excitado. Aliás, o que tinha deixado Miguel excitado?

As chances de eu descobrir eram mínimas. Não falaríamos no assunto e não havia quase nenhuma possibilidade de que aquilo acontecesse novamente.