As doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), agora chamadas de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), são causadas por diversos agentes externos e são transmitidas, principalmente, através de relações sexuais sem camisinha. Enquanto método de contracepção de barreira, a camisinha impede a entrada de esperma no útero. Seu uso evita gravidez indesejada e a transmissão de ISTs.

Pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para um milhão de casos diários de DSTs no mundo, uma epidemia silenciosa de sífilis, clamídia, gonorreia e tricomoníase. “Além de serem doenças assintomáticas, essas DSTs estão associadas a estigmas, à vergonha. Como são infecções que ocorrem sem sintomas, as pessoas não percebem que estão infectadas. Então, não se testam, não se tratam, e o risco de transmissão é imenso não só para o parceiro, mas entre mães e filhos”, afirma Melanie Taylor, epidemiologista da OMS e principal autora do estudo.

O estudo realizado em 2019 possui dados em escala global com levantamento de 130 pesquisas feitas. As quatro doenças citadas -tricomoníase, clamídia, gonorreia e sífilis-, causaram cerca de 376 milhões de diagnósticos nas faixas de 15 a 49 anos de idade. Vale ressaltar que as doenças podem ocorrer simultaneamente no mesmo indivíduo.


Relações sexuais sem camisinha

Três anos antes, em 2016, os números somavam: tricomoníase (156 milhões), clamídia (127 milhões), gonorreia (87 milhões) e sífilis (6,3 milhões). Em comparação, os dados coletados de 2012 a 2016 não representavam aumento expressivo, já o comparativo entre os anos 2016 para 2019 representa uma epidemia silenciosa para a OMS.

Apesar do Brasil ser referência nacional no combate às ISTs através da distribuição de camisinhas para a população, dados mostram que mais da metade dos brasileiros não as usam como proteção.

52% dos brasileiros nunca ou raramente usam camisinha, 10% utilizam às vezes e só 37% se protegem sempre ou frequentemente. Os dados foram fornecidos em primeira mão para a revista SAÚDE pela Gentis Panel, empresa especializada em pesquisa de mercado. O levantamento contém entrevistas com mais de 2 mil pessoas de todas as regiões do Brasil.

O uso cada vez menos frequente do método de barreira é sintomático. Para a pesquisa, os adolescentes não dão a devida importância por acreditarem que as ISTs são difíceis de contrair e fáceis de curar. Já os mais velhos não utilizam por falta de hábito ou dificuldade em colocar.

Transmissão de ISTs entre mulheres

São raros os estudos voltados para mulheres que fazem sexo com mulheres (MSM) e que demonstrem os indicadores reais da situação de saúde sexual. Seja pelos serviços de saúde, que não estão atentos às práticas sexuais de pacientes e podem, de forma muito equivocada, notificar dados supondo que casos de transmissão de ISTs nas relações sexuais entre mulheres são originários de supostas relações heterossexuais. Ou também pelo desconhecimento dessa população sobre as possibilidades de proteção e prevenção de ISTs.

Atualmente, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), os métodos de proteção se limitam a camisinha externa (ou feminina). Contudo, já existem no mercado opções como a calcinha de látex e dedeira (para uso na manipulação genital). Ainda sim é possível encontrar adaptações para o sexo com penetração e sexo oral, como o corte de camisinha interna (ou masculina), formando uma espécie de folha de látex.

DST são transmitidas, principalmente, através de relações sexuais sem camisinha
DST são transmitidas, principalmente, através de relações sexuais sem camisinha

DST ou IST?

A diferença é terminológica. Apesar de a sigla DST ser amplamente conhecida, atualmente se considera IST o termo mais adequado. A substituição destaca o fato de o indivíduo possuir e transmitir uma infecção, mesmo não apresentando sintomas da doença.

O Lábios Livres opta por utilizar ambas as expressões, sobretudo a mais popular pois prima pelo entendimento rápido das informações aqui impressas.

Tipos de DST/IST

Ao todo são catalogadas 13 tipos de DSTs. Ainda que possuam suas características, os sintomas mais comuns são: coceira, presença de feridas e corrimento ou dor no local da lesão.

AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida)

A Aids é o estágio final da infecção pelo vírus HIV, que ataca e destrói as células do sistema imunológico, deixando o organismo da pessoa sem condições de se defender contra outras doenças. Sem defesas naturais no corpo, começam a surgir diversas doenças, chamadas de infecções oportunistas.

O vírus HIV é transmitido através da relação sexual, sangue contaminado e por via placentária (durante a gravidez). Não é transmitido pelo convívio em casa ou ambiente de trabalho, nem por beijo, abraço ou compartilhamento de banheiros, toalhas, copos ou pratos.

Sintomas iniciais: Febre entre 38º e 40ºC, dor de cabeça, dor nas articulações, aumento de gânglios (ínguas) principalmente na região do pescoço, atrás das orelhas e axilas, tosse e dor de garganta, náusea, diarreia, diminuição do apetite, perda de peso (em média 5 Kg), cansaço e vermelhidão na pele.

Apesar de ser um tipo de DST, a AIDS não provoca sinais e sintomas nos órgãos genitais. Vale lembrar que os sintomas da AIDS podem demorar meses ou anos para se manifestar.

Sífilis

DST causada pela bactéria Treponema pallidum, muito disseminada entre pessoas jovens. A doença pode se manifestar de diversas formas, dependendo do seu estágio. Se não for tratada, pode durar anos e tornar-se mais grave com o passar do tempo.

Sintomas: O primeiro sinal é uma ferida discreta que pode surgir no pênis, vulva, vagina, colo do útero, ânus ou boca. A ferida não provoca dor e desaparece mesmo sem tratamento. A pessoa pensa que está curada, mas a bactéria continua presente no sangue e a doença está evoluindo. Depois de alguns meses podem aparecem manchas pelo corpo e aumento de gânglios linfáticos, conhecidos como “ínguas”, que também se resolvem espontaneamente. Com o passar dos anos, a sífilis pode causar lesões em diversos órgãos, chegando na fase tardia a causar doenças cardíacas e neurológicas, podendo levar à morte.

Porém existe tratamento que leva a cura completa da doença quando diagnosticado e orientado pelo médico.

Cancro mole

DST causada pela bactéria Haemophilus ducreyi, sendo mais comum em regiões tropicais.

Sintomas: O cancro mole caracteriza-se pelo aparecimento de uma ou mais feridas dolorosas nos órgãos genitais, com pus e odor desagradável. Outras feridas podem surgir quando a pessoa se coça. Algumas semanas depois, costumam aparecer ínguas dolorosas na virilha. O período de incubação do cancro mole é de 3 a 5 dias.

Condiloma acuminado (HPV)

Também conhecido como crista de galo, figueira e cavalo de crista, o condiloma acuminado é causado pelo HPV (Papiloma vírus humano).

HPV possui mais de 200 tipos diferentes, sendo 40 deles capazes de afetar o trato ano-genital (Relativo ao ânus e aos órgãos genitais). Segundo o INCA, Instituto Nacional do Câncer, nem toda infecção por HPV se agrava para o câncer. Contrair o HPV é mais comum do que se imagina, mas como a reação do corpo pode ser silenciosa, o tratamento em muitos é tardio. Há infecções com potencial oncológico maior do que outras, a depender do vírus.

Pelo menos 13 tipos de HPV são considerados oncogênicos (potencial cancerígeno). Os tipos 17 e 18 estão presentes em 70% dos casos de câncer do colo do útero.  

Para a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirs), na maioria dos casos, o HPV não apresenta sintomas e é eliminado pelo organismo espontaneamente. O HPV pode ficar no organismo durante anos sem a manifestação de sinais e sintomas.

Sintomas: Esse tipo de DST provoca o aparecimento de verrugas na região do ânus e dos órgãos genitais. Logo no início, podem aparecer uma ou duas verrugas pequenas. Nessa fase, a doença pode ser curada em poucos dias. Sem tratamento, as verrugas se espalham e ficam com um aspecto semelhante ao de uma couve-flor.

Doença Inflamatória Pélvica (DIP)

Ocorre quando a gonorreia e a infecção por clamídia atingem os órgãos reprodutivos da mulher (útero, trompas e ovários) e provoca inflamações.

Sintomas: Desconforto ou dor abdominal no baixo ventre (“pé da barriga”), dor durante a relação sexual, fadiga, vômitos e febre.

Donovanose

DST causada pela bactéria Klebsiella granulomatis que atinge principalmente a pele e as mucosas das regiões genitais, virilha e ânus, causando úlceras e destruição da pele infectada.

Sintomas: Após a infecção, surge uma lesão que se transforma em uma ferida ou num caroço vermelho. A ferida sangra facilmente e pode afetar grandes áreas, comprometendo a pele ao redor e favorecendo a infecção por outras bactérias.

Gonorreia e infecção por Clamídia

DSTs causadas pelas bactérias Neisseria gonorrhoeae e Clamídia trachomatis. Surgem associadas na maioria dos casos, causando infecção em órgãos genitais, garganta e olhos.

Sintomas: Grande parte das mulheres infectadas não apresenta sintomas. Quando surgem, podem causar dor ao urinar ou dor no baixo ventre (pé da barriga), corrimento amarelado, dor ou sangramento durante as relações sexuais. Nos homens, pode provocar ardência ao urinar, corrimento ou pus e dor nos testículos.

Hepatites virais

São causadas por vírus que provocam inflamação do fígado (hepatite).

Sintomas: Na maioria dos casos, as hepatites não provocam sintomas. Quando se manifestam, normalmente a doença já está avançada, podendo haver febre, fraqueza, mal-estar, dor abdominal, náuseas, vômitos, perda de apetite, urina escura, icterícia (olhos e pele amarelados), fezes esbranquiçadas.

Herpes genital

DST provocada por vírus que atinge órgãos genitais e ânus.

Sintomas: No início, surgem bolhas muito pequenas agrupadas, localizadas sobretudo na vulva, no pênis ou ao redor do ânus. As bolhas podem se romper quando a pessoa se coça, causando pequenas feridas e dor tipo queimação. Pode causar corrimento e dificuldade para urinar, tanto em homens como em mulheres. O herpes genital desaparece e volta a aparecer depois de algum tempo, normalmente nos mesmos locais. A doença só é transmitida quando a pessoa apresenta os sintomas.

Infecção pelo HTLV

DST causada pelo vírus T-linfotrópico humano (HTLV) que afeta os linfócitos T (células de defesa).

Sintomas: A infecção pelo HTLV não provoca sinais e sintomas na maioria das pessoas infectadas. Entretanto, uma pequena parte desses indivíduos poderá desenvolver doenças associadas ao vírus, que podem atingir o sistema nervoso, os olhos, a pele, o sangue e o aparelho urinário.

Linfogranuloma venéreo (LGV)

DST causada pela Chlamydia trachomatis, também conhecida como “mula”, que acomete os órgãos genitais e os gânglios linfáticos da virilha.

Sintomas: Os primeiros sintomas são febre, dor muscular, presença de caroço nas virilhas (íngua) e uma ferida pequena nos órgãos genitais. A ferida normalmente não dói e pode passar despercebida. Cerca de 7 a 30 dias depois, as ínguas aumentam de tamanho, rompem-se e eliminam pus. Se a doença for adquirida por sexo anal, pode provocar dificuldade para defecar devido ao inchaço dos gânglios da parte interna do ânus.

Tricomoníase

Este tipo de DST não é causado por vírus ou bactérias, mas pelo protozoário Trichomonas vaginalis. A doença é o tipo mais frequente de vulvovaginite na mulher adulta.

Sintomas: Corrimento amarelado e com mau cheiro, coceira e irritação na vagina, dor durante a relação sexual.

Candidíase é IST?

A candidíase NÃO é uma infecção ou doença sexualmente transmissível. Apesar das inúmeras fontes que afirmam que a candidíase é uma IST, essa informação já foi negada e atualizada por pesquisadores e autoridades da saúde.

O fungo Candida albicans habita a flora vaginal, vivendo no corpo feminino normalmente sem causar danos. Em situações de baixa da imunidade, o micro-organismo se prolifera e pode trazer desconforto ou problemas.

Em situações de crise, a candidíase pode ser transmitida sexualmente. Por esse motivo, quando isso acontece, ela precisa ser tratada em casal. Mas, segundo especialistas da área da saúde, não pode ser considerada doença, sendo na verdade considerada uma infecção oportunista.

É comum que mulheres tenham candidíase mesmo sem nenhum contato sexual, em momentos de grande estresse ou de recuperação de alguma doença, por exemplo.

Na mulher, a crise de candidíase causa coceira, ardor e inchaço na região genital, além de ocasionar um corrimento esbranquiçado. No homem, ela se apresenta como vermelhidão, dor, inchaço e coceira.

Embora mais comum e aparente em mulheres, é importante ressaltar que a o fungo Candida albicans também está presente no corpo masculino, podendo apresentar-se "sozinho" quando há baixa higiene, sem a necessidade de relações sexuais.

Como detectar e tratar?

De acordo com a Biblioteca Virtual em Saúde (BVM), do Ministério da Saúde, a maior parte das ISTs catalogadas são de fácil tratamento. Ainda assim há diagnósticos que possuem tratamento mais difícil ou casos em que a bactéria, o vírus ou outro microorganismo continua presente no corpo sem estar ativo.

Para as mulheres, os sintomas são mais difíceis de detectar uma vez que podem ser confundidos com outras reações do organismo. Por isso, realizar exames periódicos é a forma mais eficaz de detecção. As medidas profiláticas são consideradas: o uso de método contraceptivo de barreira masculino ou feminino (camisinha) e educação sexual para os sintomas e características gerais de cada doença.

O desaparecimento dos sintomas de uma DST ou IST NÃO significa necessariamente que a pessoa está curada.

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