Gerar uma vida representa um período de intensa mudança no corpo da mulher. E não para no pós-parto! São vários fatores que tornam essa fase um elo entre momentos especiais e turbulentos. Um dos aspectos é a falta de libido, muito comum durante o puerpério.
Ao ler você aprende:
- O que é o puerpério;
- Quais as mudanças ele geralmente causa no corpo;
- Por que a falta de libido é mega comum;
- Por que a privação de sono é um problema;
- A dança de hormônios no corpo;
- O que fazer para te ajudar?
Em 2019, Sabrina Sato revelou à Revista TPM que o sexo depois da gestação se tonou inexistente. “Quem faz sexo depois de ser mãe? Não dá vontade nem de bater uma punheta para o marido. É difícil, a vontade não vem. Quando você vira mãe, tudo muda. Atualmente, eu amo o Duda como se fosse meu irmão [risos]. É um amor gigantesco, eu olho para ele e sinto gratidão, mas não tesão. A gente precisa começar a falar sobre isso.”
O relato da Sabrina é a realidade da maioria das mulheres pós-parto. É super normal não ter apetite sexual depois da gestação. Uma junção de fatores faz a sexualidade mais dificultosa. As mudanças no corpo, a baixa autoestima, a montanha-russa de hormônios, a nova rotina voltada para o bebê, a baixa na qualidade de sono, são alguns deles.
Se a sexualidade feminina já muda durante a gestação, o pós-parto não seria diferente. É comum a queixa de que a mãe só quer dar atenção ao bebê e o parceiro só quer retomar as atividades sexuais. É importante compreensão e uma conversa aberta nessa fase que apesar de bela, traz consigo muitas dificuldades.
A libido feminina
A libido é conhecida como desejo sexual. E é caracterizada por muitos como energia aproveitável para instintos de vida. Segundo o pai da psicanálise, Sigmund Freud, o ser humano possui fontes distintas de energia para cada um dos instintos humanos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que a saúde sexual é um dos estados de bem-estar relacionados à sexualidade. Sendo esses: físico, mental e social. De fato, o lado emocional é um dos fatores mais decisivos na origem do diagnóstico de baixa libido.
A rotina após ter um bebê é conturbada pois há a adaptação com a rotina do nascido, período de puerpério e, com o passar do tempo, ela se altera mas o contato dois a dois continua desafiador.
Um estudo britânico publicado em 2018 afirma que cerca de 47% das mulheres e 43% dos homens acham que seus relacionamentos íntimos pioraram após ter filhos. Ainda segundo esse estudo o desejo sexual diminui 61% para as mulheres e 30% para os homens. Os dados mostram que as relações íntimas diminuem 47%. E cerca de 63% das mulheres declaram para a pesquisa ser “difícil ou muito difícil” ter privacidade para momentos íntimos quando a criança está acordada.
Período pós-parto e hormônios
Puerpério é o período pós-gestação para que o corpo da mulher volte às condições naturais pré-gestação. Ou seja, compreende a saída da placenta até a ovulação do próximo ciclo menstrual.
Mesmo após o resguardo sexual, é comum não se recuperar a libido rapidamente. Pois o período de pós-parto mexe com aspectos físicos, mentais e hormonais. Segundo estudo da Associação dos Profissionais de Saúde Reprodutiva, nos Estados Unidos os níveis de frequência sexual podem demorar até um ano para voltar.
Apesar de que após o parto, o sexo está em uma das últimas prioridades do casal mas prazer faz bem e, convenhamos, você merece!
Existe o chamado “quarteto da felicidade” composto por quatro hormônios responsáveis por sensações de bem-estar e prazer. São eles: ocitocina, serotonina, dopamina e endorfina. Temos um texto completo aqui no Lábios Livres sobre como estimular e entender seus hormônios. Clique aqui e dê para o seu cérebro o workout que ele precisa!
Profissionais afirmam que uma revolução hormonal acontece no período pós-parto. A própria saída da placenta, que em si já produz muitos hormônios, causa uma queda enorme na produção de estrógeno e progesterona. A diminuição acontece pelo aumento na produção de prolactina, para a produção de leite.
Outro fator importante durante o puerpério é a insegurança com o corpo da mulher. É comum vermos a romantização da maternidade com barrigas chapadas em poucos meses. Mas na realidade isso não acontece!
O inchaço e a perda de líquido acontecem naturalmente e podem demorar. Cada corpo funciona de uma forma e a rotina de exercícios físicos também varia de acordo com a rotina de cada mãe. Mamãe de plantão, tome cuidado com propagandas enganosas e cursos milagrosos, pois nas redes sociais a vida se maquia.
Mudanças no corpo e rotina
A revolução hormonal causa inúmeras mudanças nos espectros físico e psíquico. Afinal, apesar do clichê, corpo e mente influenciam um ao outro. Na realidade o que se chamam de mente e corpo não podem ser tratados de forma dividida, de forma que houvesse uma fronteira bem delimitada entre os dois. Como se encontra a sua saúde (mental e física) formam a totalidade do seu corpo. Um corpo sem divisão.
Entender seu corpo como uma totalidade é fundamental para reconhecer os sinais que ele dá. Apesar de cada pós-parto possuir suas singularidades, ainda há mudanças que são comuns à maioria das mulheres. Listamos para você algumas delas:
- Dor durante a penetração: acontece porque a vagina fica menos úmida/lubrificada. A causa é a alta produção de prolactina, que aumenta durante esse período e deixa a lubrificação como na menopausa.
- Queda de cabelo e unhas quebradiças: durante a gestação os cabelos podem crescer com rapidez e ficarem mais brilhantes, já no puerpério é o contrário. A queda abrupta na produção de hormônios faz com que os cabelos caiam, os fios fiquem mais frágeis e quebradiços e, consequentemente, menos volumosos.
- Olhos voltam a normalidade: durante a gestação o globo ocular tende a ficar menos lubrificado, causando ardência e lacrimação. O que também pode acontecer é a sensibilidade à luz, que altera o grau de miopia e astigmatismo. A saúde ocular tende a voltar ao normal durante o puerpério. Caso isso não ocorra, consulte seu/sua médico/a responsável.
- Saúde bucal pode demorar um pouco para voltar ao normal: ainda na gestação, o aumento na produção dos hormônios estrógeno e progesterona aliado a baixa na imunidade aumenta as inflamações corporais. Atas, gengivas sensíveis, pequenos sangramentos e cáries surgem. No pós-parto a tendência é que esses sintomas desapareçam à medida em que o equilíbrio hormonal é estabelecido.
- Pele tende a voltar ao estado pré-gestacional: a produção de estrógeno deixa a pele mais hidratada e elástica. Sua queda durante o puerpério pode deixar a pele mais ressecada e marcada. É importante que mantenha a hidratação tanto interna, bebendo muito líquido, quanto a externa, com uso de hidratantes recomendados por profissionais capacitados.
- Seios doloridos: A romantização da amamentação não repara a mulher para a realidade. Os seios crescem na gestação e tendem a aumentar ainda mais no pós-parto. Os mamilos também podem doer e rachar. A dor é causada pela apojadura ou descida do leite nos seios. Entenda que aqui não há padrões! Cada mulher tem uma produção de leite diferente e o ajuste entre mãe e bebê é singular a cada gestação. Por isso, não se compare.
- Inchaço na barriga: a pele se expande demais com a gestação e é normal que ela demore a voltar ao que era antes. Não acredite na romantização das redes sociais e receitas milagrosas. Não se pode esperar que um órgão que demorou meses para crescer, diminua tão rapidamente.
- Memória fraca e falta de atenção: conhecido como momnesia, ou pregnancy brain (cérebro de grávida, em tradução livre), fenômeno estudado por pesquisadores da Universidade Deakin, na Austrália. Eles concluíram que os dez primeiros dias podem ser os mais intensos em decorrência da privação de sono, pouco descanso e início da amamentação. A tendência é a memória e a capacidade de concentração voltarem ao normal à medida que o corpo volte ao equilíbrio.
- Varizes: o aparecimento de varizes se dá por herança genética. Mulheres com predisposição podem adquirir varizes durante a gestação. Outros fatores que contribuem são: aumento de peso e a pressão do útero sob as veias. Mesmo que comuns, saiba diferenciar. O que pode acontecer é a maior circulação de sangue, que eleva o calibre das pernas e tem aspecto similar às varizes, mas ao contrário delas, desaparecem durante o puerpério.
Além de tantas mudanças no corpo, a rotina também muda demais. Os horários são reajustados para a rotina do recém nascido que ainda se adapta ao mundo. Muitas mães não param de trabalhar o tempo adequado e o acúmulo de tarefas se torna um peso. Por isso, a comunicação clara com o/a seu/sua parceira/o é fundamental. Compreender que ambos precisam se adaptar ao bebê e ser flexível um com o outro.
Por que a privação de sono é um desafio
Para a Associação Brasileira do Sono, as pessoas que sofrem com privação do sono possuem sintomas consideráveis. Sonolência excessiva durante o dia, irritabilidade alta, mudanças de humor e cansaço excessivo são alguns deles.
É recomendado que se durma entre 7 e 8 horas por noite sem interrupções, tarefa dificílima para quem tem filho recém-nascido. Uma pesquisa realizada pela Amerisleep constatou que 25% do total de pais analisados dormem apenas de três a cinco horas por noite. Dentre eles, os que têm filhos de até 1 ano são os que menos dormem.
As horas de sono são interrompidas entre mamadas e choros do novo membro da família. Por isso, o tempinho que se há para descansar, é importante ter um ambiente calmo, sem ruídos. Roncos também podem atrapalhar, risos!
Ter uma rede de apoio é fundamental para que a mãe não se sinta sobrecarregada e possa também cuidar de si mesma. A rede de apoio pode ser organizada e conversada tanto entre o casal como entre a família.
Uma das dicas é dividir as tarefas. Quando não há distribuição, é comum uma das partes se sentir sobrecarregada. Outra dica é procurar a sintonia. Se reconectar como um casal após ter filho é um desafio para muitos casais. Entender a linguagem de amor do seu parceiro e inovar com posições e brinquedos auxiliam nesse processo. Temos um texto completo sobre como se reconectar como casal depois de ter filhos.
Ainda que com todos os fatores que contribuem para que a sexualidade da mulher seja colocada em segundo plano, é importante se lembrar que esta é somente uma fase da vida. A fase parental costuma ser atribulada, mas passa. Não se esqueça de fazer terapia, se reconectar enquanto casal e cuidar da sua autoestima. Afinal, mesmo sendo mãe, sua individualidade não se anula. Ser mãe não te torna menos mulher. Você ainda pode ser sensual e exercer uma individualidade.