por Laura Beatriz, jornalista.

Nada de se acostumar com o sexo “mais ou menos” e se contentar com pouco, disfunção sexual tem tratamento! Nesse texto, te explicamos mais sobre o tema, suas causas, diagnóstico, tratamento e a importância da conversa com o seu parceiro.

Nessa matéria, você aprende:

  • O que é disfunção sexual
  • Como são nossas funções sexuais
  • Classificação das disfunções sexuais e seu impacto no prazer feminino
  • Sintomas, causas, diagnóstico e tratamento
  • Como dialogar com a sua parceria

Primeiro, precisamos que você entenda o que é Disfunção Sexual

Apesar de muito comum, falar de disfunção sexual ainda é um tabu. Mas vamos lá, não falar sobre o assunto só dificulta a vida de todo mundo, adiando diagnóstico e tratamento, e obviamente, fazendo uma galera continuar em uma vida sexual de centavos!

Então, já pega essa: Disfunção Sexual é toda condição que torna a pessoa incapaz de participar do ato sexual com satisfação e prazer, podendo ocorrer em qualquer fase da vida adulta.

As disfunções prejudicam, em diferentes graus, a vida sexual dos indivíduos e casais, afetando a qualidade de vida das pessoas e podendo ser causa de inúmeros problemas de relacionamento e de saúde emocional.

Foto por Romina Farías / Unsplash

Uma perturbação clinicamente significativa na capacidade de […] responder sexualmente ou de experimentar prazer sexual, explica o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 5ª edição, (DSM-V).

Além disso, a presença de alguma disfunção em uma pessoa, pode ser causa de outra disfunção em seu parceiro. Sacou a importância de falarmos sobre o assunto? (Se não tiver sacado, por favor, leia de novo!).

Como são as nossas funções sexuais?

A função sexual normal e as respostas envolvem mente (pensamentos e emoções) e corpo (incluindo os sistemas nervoso, circulatório e hormonal).

  • Motivação é o desejo de se envolver ou de continuar com a atividade sexual. Há muitos motivos para desejar a atividade sexual, incluindo o interesse em sexo ou desejo de praticá-lo. O interesse sexual pode ser desencadeado por pensamentos, palavras, imagens, cheiros e toques. É possível que a motivação esteja evidente já no início ou aumente conforme a mulher fica excitada.
  • A excitação tem um elemento subjetivo; a excitação sexual que é sentida e pensada. Também tem um elemento físico: um aumento do fluxo sanguíneo até a área genital.
  • O orgasmo é o pico ou clímax da excitação sexual. Pouco antes do orgasmo, a tensão muscular em todo o corpo aumenta. À medida que o orgasmo começa, os músculos ao redor da vagina se contraem ritmicamente.
  • Resolução é uma sensação de bem-estar e relaxamento muscular generalizado. A resolução normalmente segue o orgasmo. No entanto, a resolução pode ocorrer lentamente após uma atividade sexual altamente excitante sem orgasmo. Algumas mulheres podem responder a estimulação adicional quase imediatamente após a resolução.
Imagem retirada do blog Cientistas Feministas

A Disfunção Sexual nas mulheres

A Organização Mundial de Saúde (OMS) referenda a sexualidade como sendo um dos indicadores de qualidade de vida. Mesmo que a disfunção sexual seja muito conhecida por afetar os homens, também atinge mulheres.

Foi somente em 2001 que um novo desenho de resposta sexual, mais especificamente da resposta feminina, foi criado pela psiquiatra canadense Rosemary Basson.

O ciclo de resposta sexual feminino envolve, segundo o consenso científico atual, intimidade emocional, neutralidade sexual, excitação sexual, desejo sexual espontâneo, desejo responsivo e excitação sexual, e satisfação emocional e física.

Muitas mulheres, porém, não sabem que têm um problema, ou quais são as causas e os possíveis tratamentos. Se você está passando por dificuldade em sua vida sexual, não tenha medo ou vergonha de procurar orientação médica. Sexo é troca, converse com o seu parceiro, esclareça como está se sentindo e peça ajuda.

Coloque o seu prazer como prioridade, assim como coloca o do seu parceiro, e entenda que você merece tanto quanto ele.

Classificações das Disfunções Sexuais e o seu impacto no prazer feminino

No geral, as disfunções podem ser divididas em quatro grandes grupos:

Transtornos do desejo: falta de desejo sexual ou interesse por sexo.

Em geral, para se chegar a um diagnóstico de transtorno de desejo sexual hipoativo, é importante que a mulher perceba uma redução do desejo sexual por mais de seis meses e que ela considere isso um sofrimento (caso contrário, não "configura" um transtorno).

O transtorno de desejo/interesse sexual é classificado da seguinte forma:

  • Subjetivo: A mulher não se sente excitada por nenhum tipo de estimulação sexual, incluindo beijar, dançar, assistir a um vídeo erótico ou estimulação física da região genital. No entanto, a mulher com transtorno de desejo/interesse sexual subjetivo pode ter uma resposta física à estimulação sexual;
  • Genital: A mulher se sente excitada em resposta à estimulação que não envolve os órgãos genitais (por exemplo, um vídeo erótico), mas ela não responde à estimulação física dos órgãos genitais. Ocorre uma redução das secreções vaginais e/ou da sensibilidade dos órgãos genitais;
  • Combinado: A mulher sente pouca ou nenhuma excitação sexual em resposta a qualquer tipo de estimulação sexual. A resposta física (aumento do fluxo sanguíneo para os órgãos genitais e a produção de secreções vaginais) é mínima ou inexistente.

Transtornos da excitação: incapacidade de ficar fisicamente excitada ou estimulada durante a atividade sexual.

A excitação sexual é a sensação de prazer sexual, sentida principalmente na vulva ou vagina. Quando isso ocorre, há um aumento do fluxo de sangue na região da genitália, que "incha" e lubrifica a vagina.

No caso de uma disfunção da excitação sexual, a mulher encontra dificuldade em ficar lubrificada e sexualmente excitada. Ela pode também sentir pouca ou nenhuma sensação de desejo, ainda que haja estimulação erótica.

Transtornos do orgasmo: atraso ou ausência de orgasmo (clímax).

A chamada anorgasmia é a dificuldade ou incapacidade de se chegar ao orgasmo mesmo com estímulo sexual.

Nesse caso, a profissional de saúde investigará em primeiro lugar o que pode ter causado essa anorgasmia. Algo bastante comum é que a mulher pode nunca ter tido ou aprendido a ter um orgasmo em sua vida.

  • É possível que a mulher não tenha um orgasmo se o ato sexual acabar muito rápido, se não houver preliminares suficientes, se ela não comunicar o que a faz se sentir bem ou se o parceiro não responder a essa comunicação;
  • Muitas mulheres com esse transtorno apresentam outros tipos de problemas sexuais, tais como dor durante o sexo e contração involuntária dos músculos ao redor da abertura da vagina quando a penetração na vagina é tentada;
  • O médico diagnostica o transtorno do orgasmo com base na descrição da mulher sobre o problema e critérios específicos;
  • A mulher é incentivada a experimentar a autoestimulação (masturbação) e, para algumas mulheres, alguns tipos de psicoterapia são úteis.

Distúrbios de dor: dor durante a relação sexual.

Acontece principalmente quando a mulher sente dor durante a relação sexual com penetração, podendo variar de incapacidade de experimentar facilmente a penetração ou incapacidade total para experimentar penetração vaginal.

Há três categorias principais dessa disfunção: dispareunia, vaginismo e vulvodínia.

Sintomas

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Foto por Janosch Lino / Unsplash
  • Incapacidade de atingir o orgasmo;
  • Lubrificação vaginal inadequada antes e durante a relação sexual;
  • Incapacidade de relaxar os músculos vaginais o suficiente para permitir a relação sexual.

Em homens e mulheres, falta de libido, incapacidade de ficar excitada (o) e a dor são sinais comuns de disfunção sexual.

Inclusive, para os homens, falar sobre qualquer tipo de disfunção sexual é um grande tabu. Nessa pesquisa Datafolha conduzida pela plataforma Omens, “o resultado demonstrou que, dos respondentes totais, 69% enfrentaram algum problema sexual na vida. Além das dificuldades com a ereção, outra muito encontrada foi a de controlar a ejaculação, enfrentada por pelo menos 48%”.

Causas

Muitos fatores causam ou contribuem para os vários tipos de disfunção sexual. Tradicionalmente, as causas são consideradas como físicas ou psicológicas. No entanto, os dois tipos de causas não podem ser separados.

Fatores psicológicos

A depressão e a ansiedade frequentemente contribuem para a disfunção sexual. Vários tipos de temor como, por exemplo, de se liberar, de ser rejeitada ou de perder o controle, além de baixa autoestima podem contribuir com a disfunção sexual.

Preocupações sexuais comprometem também a função sexual. As consequências indesejadas do sexo (por exemplo, gravidez ou infecção sexualmente transmissível) ou com o próprio desempenho sexual ou do parceiro, deixa a mulher tensa, preocupada e em alerta.

Fatores físicos

Vários problemas físicos e medicamentos podem causar ou contribuir para a disfunção sexual. Alterações hormonais, que podem ocorrer com o envelhecimento ou serem causadas por uma doença, podem interferir também.

Diagnóstico

Na maioria dos casos, você reconhece que algo está interferindo no seu prazer (ou no prazer de um parceiro) em um relacionamento sexual. Ao buscar orientação médica, o profissional solicitará o histórico completo dos sintomas e um exame físico.

Podem ser realizados testes diagnósticos para descartar problemas de saúde que podem estar contribuindo para a disfunção.

Tratamento

A maioria dos tipos de disfunção sexual pode ser tratada com o tratamento de problemas físicos ou psicológicos subjacentes.

Porém, há também outras estratégias, como:

  • Medicação: Quando um medicamento é a causa da disfunção, uma mudança na medicação pode ajudar. Homens e mulheres com deficiência hormonal podem se beneficiar de injeções, pílulas ou cremes hormonais;
  • Auxiliares mecânicos: Auxiliares como dispositivos a vácuo e implantes penianos podem ajudar homens com disfunção erétil (incapacidade de atingir ou manter uma ereção). Um dispositivo a vácuo também é aprovado para uso em mulheres, mas pode não ser tão acessível. Os dilatadores podem ajudar as mulheres que apresentam estreitamento da vagina. Acessórios sexuais, como vibradores, podem ser úteis para ajudar a melhorar o prazer sexual e chegar ao clímax mais facilmente;
  • Terapia sexual: Terapeutas sexuais e psicólogos podem tratar pessoas com problemas sexuais que não podem ser tratados com medicamentos. Os terapeutas também costumam ser bons conselheiros conjugais. Para o casal que deseja começar a desfrutar de seu relacionamento sexual, vale a pena o tempo e esforço para trabalhar com um profissional treinado;
  • Tratamentos comportamentais: Envolvem várias técnicas, incluindo insights sobre comportamentos prejudiciais no relacionamento, ou autoestimulação para tratamento de problemas de excitação e/ou orgasmo;
  • Psicoterapia: A terapia com um psicólogo ou psicanalista pode ajudar o indivíduo a lidar com possíveis traumas sexuais do passado, transtornos de ansiedade, medo, culpa e imagem corporal deficiente. Todos esses fatores podem afetar a função sexual;
  • Educação e diálogo: A educação sobre sexo e comportamentos e respostas sexuais pode ajudá-lo a superar a ansiedade sobre a função sexual. O diálogo aberto com seu parceiro sobre suas necessidades e preocupações também ajuda a superar muitas barreiras para uma vida sexual saudável.

A conversa com seu parceiro, os primeiros passos

Foto por Priscilla Du Preez / Unsplash

Gonçalves (2006) explica que todo ser humano é um ser histórico, tem sua biografia de vida. Para compreender a queixa sexual, deve-se compreender o contexto existencial de cada um.

A queixa sexual invariavelmente carrega consigo outras queixas que não são sexuais e compreender isto implica compreender o seu próprio caminho.

Sexo é saúde! Não sabia? Pois agora você está sabendo. O nosso contexto social e cultural ainda favorece, em diferentes âmbitos e espaços, a marginalização do prazer feminino. Isso faz com que mulheres tenham vergonha de falar abertamente sobre sua sexualidade e sobre as eventuais dificuldades que passam.

A culpa faz com que deixemos de apresentar nossas queixas, vontades e receios para nossos parceiros, e até mesmo para nossa médica (o). Mas não deve ser assim, se colocar como prioridade e agente de sua própria vida te faz perceber o poder existente em decidir o seu próprio percurso, qual a melhor forma e como trilhá-lo.

Puxe a cadeira e chame o mozi para uma conversinha, seja pontual e sincera, explique como se sente. Com paciência e calma, tudo se encaixa e vocês podem desfrutar um do outro de uma forma cada vez mais gostosa.

E se assim decidir, não se acanhe em procurar um médico especialista!


Referências

  1. Educa Cetrus
  2. Omens
  3. Msd Manuals
  4. Portal Gineco
  5. Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva
  6. Portal Ecycle
  7. Portal Tua Saúde
  8. BBC
  9. Plataforma Scielo