Muito se fala sobre gênero e sexualidade, mas nem todos sabem a diferença entre os dois conceitos. Nós te explicamos!

Ao ler você confere:

  • Significado e diferenças entre Gênero e Sexualidade
  • Por dentro da identidade de gênero: cisgênero, transgênero, não-binário e interssexual
  • Identidade de gênero: comentários que podem ser evitados
  • Por dentro da orientação sexual: heterossexual, homossexual, bissexual, assexual e pansexual
  • A psicoterapia como um processo de entendimento
  • Sobre manter o respeito
  • Viva a diversidade e as infinitas possibilidades!

Gênero e sexualidade. Esferas sociais e culturais que precisam ser observadas e respeitadas à medida que se constroem e reconstroem com o passar dos anos na sociedade. Os significados podem ser explicados e destrinchados, assim como faremos neste artigo.

Pronouns matter. Pronouns are important. Everyone is valid. She/Her, He/Him, They/Them, Ze/Zim, and many more. Don't be afraid to ask which pronouns someone may prefer.
Foto por Sharon McCutcheon / Unsplash

Gênero x Sexualidade

Ambas as palavras “gênero”e "sexualidade'' foram ressignificadas diversas vezes com o passar dos anos e as evoluções sociais. Engana-se quem pensa que a sua definição sempre foi absoluta. É possível analisar, com o passar dos anos, como os sentidos foram se construindo e modificando.

“Gênero é um elemento constitutivo das relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos… o gênero é uma forma primária de dar significado às relações de poder.” – Joan Scott, 1995.

Você com certeza já ouviu por aí o termo “gênero” ser utilizado apenas para definir o sexo biológico. Mas, ao contrário do que dizem, a palavra não faz referência apenas a isso. É necessário olhar por uma perspectiva social e entender que tudo pode fazer parte de uma construção, e não apenas de características fisiológicas.

De uma forma resumida, o gênero pode ser explicado como construções sociais baseadas nos sexos biológicos. Ficou mais claro?

“A sexualidade foi definida como sendo,  ̳por natureza, um domínio penetrável por  processos  patológicos,  solicitando,  portanto,  intervenções  terapêuticas  ou  de normalização;  um  campo  de  significações  a  decifrar;  um  lugar  de  processos ocultos por  mecanismos  específicos;  um  foco  de  relações  causais  infinitas,  uma  palavra obscura que é preciso, ao mesmo tempo, desencavar e escutar.” - Michel Foucault (1988)

Já a sexualidade se refere à orientação sexual de uma pessoa. Isso inclui os gêneros que essa pessoa sente interesse (seja sexual ou romântico). Quando falamos de sexualidade, precisamos entender que ela vai além da questão de reprodução e não se reduz apenas às atividades que dependem unicamente do aparelho genital. Para Freud, a sexualidade humana não é instintiva e o ser humano, desde a infância, busca prazer e satisfação de diferentes formas.

Foto por Markus Winkler / Unsplash

Por dentro da identidade de gênero

Já a identidade de gênero diz respeito ao gênero com o qual o indivíduo se identifica, independentemente das suas características biológicas.

Cisgênero

O termo se refere às pessoas que se identificam com o seu "gênero de nascença". A sua identidade de gênero corresponde ao gênero que já lhe foi atribuído ao nascer.

Exemplo: uma pessoa nasce com uma vagina, cresce com características físicas de “mulher” e assume padrões sociais ligados ao feminino, como roupas e tom de voz.

Transgênero

O termo se refere às pessoas que não se identificam com o seu “gênero de nascença”. A sua identidade de gênero não corresponde ao gênero que já lhe foi atribuído ao nascer.

Exemplo: uma pessoa que nasce com uma vagina, cresce com características físicas de “ mulher”, mas sua identificação é com o físico masculino e ela passa a assumir padrões sociais ligados ao masculino.

Não-binário

O termo se refere às pessoas que não se identificam como pertencentes a um gênero exclusivamente. A sua identidade de gênero não corresponde, necessariamente, ao gênero que já lhe foi atribuído ao nascer. Isso significa que o indivíduo não se limita apenas ao sexo masculino e feminino, sentindo identificação com os dois.

Intersexual

O termo é utilizado para descrever pessoas que nascem com características sexuais biológicas que não se encaixam nas categorias típicas do sexo feminino ou masculino. Consufo? De forma mais simples, algumas pessoas intersexo possuem cromossomos XX e têm naturalmente um pênis, enquanto outras possuem cromossomos XY e têm uma vagina.

Exemplo: Uma pessoa que é fisicamente mulher, mas geneticamente um homem (ou vice versa). Para ilustrar melhor, uma pessoa que tem todas as características físicas femininas, mas possui cromossomos masculinos (xy).

Comentários que podem ser evitados com relação à identidade de gênero

Binary is for computers sticker at a bar in Lugano, Switzerland.
Foto por Delia Giandeini / Unsplash

Para não ter mais a desculpa de que “não sabia que era uma fala preconceituosa” ou que “nem entende dessas coisas, foi sem querer”, confiram aqui alguns comentários desnecessários e que, com um pouquinho de bom senso e estudo, podem ser evitados.

“Mas será que você só não é gay?”

Orientação sexual e identidade de gênero são duas coisas completamente diferentes. A identidade de gênero diz respeito a como a pessoa se identifica (como homem, mulher, ambos ou nenhum dos dois). Já a orientação sexual se refere a por quem a pessoa desenvolve atração sexual (homem, mulher, ambos ou nenhum dos dois).

“Mulheres transexuais reforçam estereótipos de gêneros.”

Por se entenderem como sendo de um gênero diferente ao de nascença, a pessoa que se reconhece como trans tentará se aproximar de tudo que diz respeito ao gênero que elas se identificam, não fazendo sentido o pensamento contrário. Portanto, o gênero não deve vir embutido de uma expressão de gênero padrão.

“Você é trans? Nossa, mas parece mulher de verdade!”

Mulheres trans são mulheres de verdade. Comentários dessa natureza fazem um juízo de valor impróprio sobre a aparência.

“Você é não-binário? Mas e esse seu jeito todo de menina?”

Esse estereótipo acaba por ignorar a grande diversidade que existe entre pessoas não-binárias. Pessoas não-binárias não precisam rejeitar uma aparência feminina ou masculina.

“É não-binário? Então você tem disforia, né?”

Não existe nenhuma conexão entre uma coisa e outra. A disforia de gênero pode ser entendida como a não identificação de uma pessoa com o seu sexo de nascença. Algumas pessoas não-binárias têm disforia e desejam fazer uso de hormônios ou de cirurgias, mas não são todas.

Por dentro da orientação sexual

Como já explicamos em tópicos anteriores, a orientação sexual diz respeito ao desejo sexual e/ou romântico que uma pessoa tem por outra. Mas, para além de entender o significado do termo, é importante conhecer as diversas definições existentes.

Heterossexual

O termo se refere às pessoas que se sentem atraídas e se relacionam com indivíduos do sexo oposto.

Exemplo: uma mulher se sente atraída por homens ou um homem se sente atraído por mulheres.

Homossexual

O termo se refere às pessoas que se sentem atraídas e se relacionam com indivíduos do mesmo sexo biológico e o mesmo gênero que o seu.

Exemplo: uma mulher se sente atraída por mulheres ou um homem se sente atraído por homens.

Existe, também, a seguinte situação:

Um homem trans que se interessa por homens trans e por homens cis; um homem cis que se interessa por outros homens sis e por homens trans. Ambos são considerados homossexuais.

Bissexual

O termo se refere às pessoas que se sentem atraídas e se relacionam com indivíduos tanto do sexo masculino, quanto do sexo feminino.

Exemplo: uma mulher se sente atraída por mulheres e por homens; um homem se sente atraído por homens e por mulheres.

Existem diversos pensamentos equivocados e comentários constrangedores quando o assunto é a bissexualidade.

A bissexualidade não é indecisão.
A bissexualidade não se divide em “50% atração por mulheres” e “50% atração por homens”.
Bissexualidade não é a “não aceitação” da homossexualidade.
Ser bissexual não trai o ativismo da comunidade LGBTQIA+.

Assexual

O termo se refere às pessoas que sentem pouca ou, às vezes, nenhuma atração sexual. No entanto, não podemos generalizar. Existem diferentes graus de atração que se dividem em alguns grupos:

Assexual estrito é o indivíduo que não sente atração sexual em nenhum momento.

Assexual fluído é o indivíduo cujo seus desejos sexuais oscilam. Em alguns momentos eles podem se sentir um demissexual, em outros um grayssexual.

Demissexual é o indivíduo que só sente atração sexual depois de criar um vínculo afetivo com outra pessoa.

Grayssexual é o indivíduo que só sente atração sexual em situações e circunstâncias específicas.

Frayssexual é o indivíduo que só sente atração sexual quando não há um vínculo afetivo formado.

Cupiossexual é o indivíduo que não sente atração sexual por outros, mas tem vontade de ter uma vida sexual ativa.

Pansexual

O termo se refere às pessoas que se sentem atraídas e se relacionam com indivíduos de qualquer gênero e/ou qualquer orientação sexual.

Exemplo: um panssexual pode se relacionar com pessoas trans ou intersexuais.

Sei que agora alguns devem estar se perguntando qual a diferença entre panssexual e bissexual. Vamos lá: enquanto pessoas bissexuais sentem atração independentemente do gênero (ainda que o gênero e a identidade de gênero tenham um certa influência nas relações), os pansexuais negam a influência do gênero no relacionamento.

Portanto, os pansexuais gostam de “pessoas”, antes mesmo de identificar o sexo/gênero delas.

London Pride parade - 2016
Foto por Ian Taylor / Unsplash

Comentários que podem ser evitados com relação à orientação sexual

“Você é gay? Nossa, mas o seu jeito nem é afeminado!”

O clássico exemplo de quem desconhece a diferença entre gênero e sexualidade. Mas, para além disso, se trata de um estereótipo que resume homossexuais a atos e trejeitos. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

“É lésbica? Mas nem parece… tão feminina!”

O argumento acima pode ser reutilizado aqui também. A forma na qual a mulher age, se veste e se porta não tem ligação com a forma na qual ela se relaciona com outras pessoas.

“Assexual é estilo de vida!”

“Fonte: vozes da minha cabeça”. A assexualidade, assim como as outras sexualidades já citadas, não é uma escolha, mas uma orientação sexual legítima. Não é celibato e muito menos abstinência.

“Você não disse que era panssexual? Por que não se sente atraída por mim?”

Pansexuais não têm a obrigação de se atrair por ninguém. Assim como você tem seu gosto, pessoas panssexuais também tem o delas. Não é porque eles se sentem atraídos e se relacionam com indivíduos de qualquer gênero e/ou qualquer orientação sexual que terão, necessariamente, interesse em todos ao redor.

A psicoterapia como um processo de entendimento

Se você que está lendo esse texto e ainda está em um processo de autodescobrimento, queremos te falar que você não está sozinha! Faz parte do processo se questionar e analisar os seus sentimentos, mas lembre-se de sempre fazer isso com muito carinho e respeito a si mesma. Sem julgamentos.

O terapeuta é um profissional capaz de compreender as suas questões em relação a diferentes áreas da sua vida, inclusive em relação à sua sexualidade e identidade de gênero. Faz parte da jornada da terapia o estímulo à reflexão e conversa sobre o tema. Quanto mais falamos sobre experiências, vivências e desejos, melhor será o caminho rumo à desconstrução.

Conhecendo o mundo marcado pelo preconceito no qual vivemos e as diferentes estruturas familiares existentes, é esperado que algumas pessoas se sintam angustiadas ao pensar no assunto ou, sequer, falem sobre em voz alta. É compreensível. E por isso a psicoterapia se faz importante. É um ambiente acolhedor, seguro e de autodescoberta que pode auxiliar na libertação.

Caso se depare com algum profissional da psicologia que faça com que você se sinta desrespeitada ou oprimida, busque o Conselho Regional de Psicologia e relate a conduta inadequada.

Sobre manter o respeito

Ao mínimo sinal de desrespeito, exponha. Para além de pessoas maldosas que entendem a comunidade LGBTQIA+ como algo “indigno”, existem também as pessoas que são desinformadas. O papel de falar e passar informação sobre é de todos, indo além dos indivíduos que fazem parte da comunidade.

Entendemos como é cansativo ter que escutar comentários maldosos ou equivocados, perguntas invasivas e sofrer violência verbal e física por questões que envolvam a sua sexualidade ou seu gênero. Ao identificar que alguém está sendo desrespeitoso, interfira.

Foto por NIM / Unsplash

Viva a diversidade e as infinitas possibilidades

Entender e aceitar todas as formas de experimentar prazer, de dar e de receber afeto, de amar e de ser amada é a grande beleza que há em toda discussão sobre gênero e sexualidade. A visibilidade pode caminhar lado a lado com a aceitação, por isso, compartilhe conhecimento sempre que puder.

Para lidar e entender sobre a nossa diversidade é preciso, antes de tudo, não se recusar a vivê-la.