Se você é uma dessas pessoas antenadas que adora ler notícias e ouvir podcasts, você provavelmente já ouviu as buzzwords “sextech” ou “sexual wellness” por aí. Você também já deve supor que tem a ver com o mercado sexual - o que exatamente nós te contamos agora. Então, separa esses dez minutinhos de leitura que nós vamos te contar o que você precisa saber sobre o tema, como as mulheres estão entrando nesse mercado e porquê é a mais nova espécie de revolução sexual, então (prometemos que vai ser bem legal).
Começando: sextech, em poucas palavras, é a junção de tecnologia com uma ideia que visa melhorar a vida sexual das pessoas. Resumidamente, o foco desses negócios é oferecer soluções para melhorar a relação das pessoas com sua sexualidade. E isso não é algo novo: o primeiro vibrador foi criado na década de 1880, há mais de 100 anos. Na época, o intuito era melhorar dores crônicas. E antes disso, há milhares de anos, já existia até consolo (ou dildo, como preferir), viu? Os objetos sexuais fálicos datam até mais de 6 mil anos a.C.
Já sexual wellness é, basicamente, outro termo usado para se referir a isso tudo. A tradução literal é “bem-estar sexual". Sabe a super tendência de skincare e autocuidado? Pois é, sexual wellness é o equivalente disso para melhorar e manter a nossa saúde sexual.
Por que estamos falando sobre isso agora?
Bem, primeiro de tudo, esse é um mercado bilionário: no momento, a indústria sextech já vale 30 bilhões de dólares. E o Vale do Silício estima que até 2024 vai valer mais de 128 bilhões de dólares.
Essa estimação é bem realista, já que com a pandemia e as restrições de contato ao redor do mundo, vimos a demanda de produtos e serviços sextech crescer em escala global: aplicativos europeus como o Emjoy, Beducated e Ferly dobraram ou triplicaram o seu número de inscritos desde fevereiro de 2020.
O aplicativo de áudio erótico Dipsea, focado no público feminino e LGBTQIA+, cresceu 84% em número de inscritos pagos no primeiro ano da pandemia. No Brasil, 1 milhão de vibradores foram vendidos entre março e julho do mesmo ano, durante o primeiro lockdown, 50% a mais do que o mesmo período no ano anterior.
Você deve já estar ligando os pontinhos de onde nós queremos chegar: as mulheres têm uma participação muito importante nesse fenômeno, que é o crescimento do mercado sextech. Não só pela clara demanda por entretenimento sexual, mas também por estarem por trás das principais inovações. Em termos globais, as mulheres são pioneiras e donas dos negócios mais poderosos e bem sucedidos desse mercado.
Mulheres em sextech: as principais empresas internacionais do ramo
Separamos algumas das marcas protagonistas lideradas por mulheres no mercado de sextech e sexual wellness para você entender um poquinho melhor quais são os serviços e produtos oferecidos e como eles tem ajudado e suprido a demanda feminina. Saca só:
Emjoy
A Emjoy é uma plataforma de áudio que reúne desde contos eróticos à reflexões, de acordo com os seus objetivos. No aplicativo com mais de 200 mil mulheres inscritas, você pode personalizar a sua jornada de prazer de acordo com as suas principais demandas - amar o seu corpo, entender impacto na mídia nisso, autoaceitação, bem-estar sexual, como conhecer o seu corpo e muito mais.
Como dito ali em cima, a Emjoy foi uma das empresas que mais viu crescimento desde que a pandemia começou, o que fez com que a start-up espanhola conseguisse 2.5 milhões de euros em financiamento no fim de 2020, colocando sua co-fundadora e CEO Andrea Oliver Garcia como parte do ranking Forbes Under 30 (lista de empreendedores fazendo fortuna antes dos 30).
Além disso, a Emjoy também tem um blog atualizado com informações relevantes para educar e empoderar mulheres, com artigos sobre como identificar situações de violência doméstica e dicas de saúde.
Dipsea
Já mencionamos a Dipsea aqui no nosso textinho sobre as melhores fontes de conteúdo erótico para mulheres, que é uma plataforma de histórias sexys de áudios para apimentar a imaginação e colocar a mulher no mood. Possuem newsletter e uma página no Instagram super inspiradora também.
Assim como a Emjoy, o aplicativo também tem uma vertente de bem-estar, com dicas de respiração e meditação sexual guiada. Outro diferencial aqui é a diversidade: você não só pode escolher que voz você queira ouvir falando com você, mas também pode escolher entre diversas outras histórias voltadas para a comunidade LGBTQIA+.
Fundada pelas designer e engenheira de software, respectivamente Gina e Faye, a Dipsea também observou crescimento significativo com a pandemia, como mencionamos anteriormente - 74% em números de inscritos em 2020.
Lora DiCarlo
Lora DiCarlo é uma marca vencedora de prêmios no quesito apetrechos tecnológico sexuais, como vibradores. Inspirada nas experiências da sua CEO, Lora Haddock Di Carlo, a marca desenvolveu seus sextoys em parceria com o Laboratório de Robótica e Engenharia da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos.
A marca ganhou um prêmio por inovação em robótica da Consumer Technology Association na conferência Consumer Eletronic Shows (CES) pelo seu inovador sextoy Osé, mas o prêmio acabou sendo revogado uma semana depois. A associação disse que um erro havia sido cometido, já que o produto era “profano” e “imoral”, o que causou grande comoção e debate na mídia e na internet sobre igualdade de gênero e o direito feminino ao prazer, já que a mesma conferência já havia premiado serviços e produtos voltados para o prazer sexual masculino.
Depois da polêmica, a CES reconheceu o erro e voltou atrás, devolvendo o prêmio e mudando a política de bem-estar e saúde da conferência, que agora abrange mais sextech, além de banir pornografia e afins.
Achou interessante e quer mais um fato legal sobre a Lora DiCarlo? A empresa passou de zero renda em 2019 para 7.5M de renda no primeiro ano de negócio. Bom, hein? Além disso, a modelo e ativista Cara Delevigne entrou como co-dona e diretora criativa da marca.
Dame Products
A Dame Products é outra marca super legal que atua no setor de sexual welness. Além de produzir vibradores e cosméticos de bem-estar sexual, como lubrificantes, a Dame também tem uma plataforma de conteúdo online recheada de informações para quem busca refletir e entender mais sobre sexualidade - todo o conteúdo é criado por jornalistas, psicólogos, escritores e sexólogos. Além disso, o design é super minimalista e lindo (a gente ama!).
Fundada pela sexóloga Alexandra Fine e pela engenheira Janet Libermann, a Dame experienciou um aumento de 100% nas vendas em 2020, além de ter conquistado 4 milhões de dólares em financiamento nesse ano de 2021. A CEO da Dame, Alexandra, também está na lista da Forbes Under 30.
As empreendedoras de sextech no Brasil
O Brasil não fica pra trás quando se trata de empreendedorismo feminino nessa indústria. Também separamos algumas das marcas fazendo história nesse ramo no país com mulheres pra lá de inspiradoras na linha de frente. Olha só algumas das empresas que você tem que ficar de olho:
Lilit
A Lilit é umas das primeiras marcas brasileiras de vibradores, criada por mulheres e pensada para mulheres. Com produtos exclusivos e muita pesquisa, a Lilit desenvolveu o vibrador Bullet Lilit, que elas descrevem como o “primeiro vibrador que elas gostariam de ter tido”.
Entre testes, protótipos e muitos grupos focais, a Lilit conseguiu desenvolver, digamos assim, o vibrador que você tem que ter. Fundado pela publicitária Marília Ponte com um investimento inicial de 200 mil reais, a Lilit já faturou 450 mil no primeiro ano de negócios (a propósito, nós lançamos uma parceria de conteúdo com a Lilit lá na nossa página no Instagram, com contos eróticos para cada signo, vai dar uma espiadinha!).
Feel
A Feel é uma marca de sexual wellness voltada para os cosméticos de bem-estar sexual, como lubrificantes, hidratantes íntimos e óleos de massagem. Com fórmulas naturais e focada em trazer qualidade para essa audiência, a Feel conseguiu, em menos de um ano de lançamento, entrar para o programa de aceleração GB Venture do Boticário.
O Grupo Boticário é uma dos maiores e mais tradicionais grupos de beleza do país, o que representa um grande passo para a revolução na criação de produtos voltados e pensados para a sexualidade feminina.
A Feel foi fundada pela publicitária Marina Ratton, que lidera o time 100% feminino da start-up juntamente com a empresária Dani Junco.
Share Your Sex
Talvez você já tenha ouvido falar da Share Your Sex no Facebook. Se nunca ouviu, a gente te conta a história e você vai querer ter conhecido antes: Há 6 anos, a Mariah Prado decidiu começar um grupo no Facebook para falar explicitamente sobre sexo com outras mulheres e compartilhar experiências. O que ela não esperava era que o grupo fosse crescer tanto (principalmente por ser secreto): atualmente com mais de 100 mil mulheres compartilhando suas experiências de maneira privada e segura.
O sucesso e engajamento do grupo Share Your Sex no Facebook deixaram algo super claro para Mariah: a demanda é grande, e as mulheres querem falar sobre sexo. Hoje, a Mariah é empresária e a Share Your Sex agora tem uma plataforma de áudios eróticos para mulheres com uma comunidade privada acoplada - a SYS Club, pensada especialmente para você que quer conversar, curtir e não se sentir sozinha nas suas experiências.
Panty Nova
A Panty Nova é uma marca brasileira e pioneira no ramo de sexual wellness, tendo criado um ambiente inclusivo e pensado para que pessoas LGBTQIA+ se sintam seguras e livres (se você segue a Panty no Instagram, você já sabe que o conteúdo é super inclusivo). A Izabela Starling e a Luisa Heloisa Etelvina, fundadoras da Panty Nova, passaram 2 anos estudando, testando e desenvolvendo produtos para ajudar todes a se descobrirem sexualmente.
Além de vender os queridinhos vibradores, a Panty também tem a própria linha de cosméticos sexuais e mais de 60 mil pessoas na sua comunidade. De março a abril de 2020, elas viram um crescimento de 400% em vendas depois que o lockdown começou.
Porquê essa é a nova revolução sexual
Estima-se que quase oito em cada dez pessoas que empreendem no setor erótico são mulheres - e isso não é por acaso. As mulheres enfrentam séculos de opressão, e nos últimos anos temos tentado cada vez mais clamar o nosso espaço e usar a nossa voz para pedir o que queremos, e isso naturalmente reflete na reinvidicação do nosso direito de sermos donas de si, inclusive nossa sexualidade.
Empoderamento sexual é uma parte importante do empoderamento feminino - lembram que só conseguimos planejar nossas vidas e carreiras depois dos anticoncepcionais? 60 anos depois da criação das pílulas anticoncepcionais, ainda há um longo caminho pela frente - nós ainda enfrentamos, diariamente, opressões discretas que silenciam nossos desejos e freiam nossa busca pelo prazer.
Porém, nada está perdido: as coisas estão prestes a mudar. Durante a pandemia, com as medidas de distanciamento social, a demanda feminina pelo direito ao prazer foi mais exposta: as mulheres sentem desejo e querem conhecer seus próprios corpos, vulgo a alta venda de vibradores e o crescimento dos aplicativos de conteúdo erótico voltado pra elas. A tecnologia e os movimentos de liberação feminina abrem espaço para uma nova revolução sexual: a mulher que é dona de si, se conhece e fala sobre o que quer (e como quer).